
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Adega Cooperativa de Borba, João Mota Barroso, destacou que "estes dois últimos anos estão acima da média" em termos de volume de produção para a instituição.
Habitualmente, a adega "em anos normais recebe 15 ou 16 milhões de quilos de uva e faz 12 ou 13 milhões de litros de vinho", disse.
Mas, na campanha de 2024, João Mota Barroso a Adega de Borba recebeu dos seus associados "19 milhões de quilos de uva, o que dá 16 ou 17 milhões de litros de vinho", tendência crescente que já vinha do ano anterior.
"Foi um ano excecional, tal como o de 2023", sublinhou, aludindo ainda à qualidade, que "nunca está em causa".
"Num panorama de muitos produtores e muitas parcelas, há sempre qualidades diferentes, mas as cooperativas conseguem sempre salvaguardar uma qualidade média [do vinho] bastante elevada", esclareceu.
Com um volume de faturação que rondou os "15 a 16 milhões de euros" no ano passado, a adega vende cerca de 80% do que produz para o mercado nacional e exporta "os outros 20 e tal por cento".
"Lá para fora, vendemos para uma série grande de mercados, aí para uns 30, mas os principais são o Brasil, os Estados Unidos e França", indicou.
João Mota Barroso falava à Lusa no dia em que a Adega Cooperativa de Borba promoveu uma conferência, no seu auditório, para refletir sobre as particularidades da organização cooperativa no setor e os desafios do Alentejo para valorizar a sua Denominação de Origem enquanto marca coletiva.
O evento, com especialistas do setor vitivinícola, representantes de cooperativas de várias regiões e outros responsáveis do setor, integrou as comemorações do 70.º aniversário da Adega de Borba.
O presidente da adega cooperativa, fundada em 1955, lembrou à Lusa que a criação da instituição, tal como de outras pelo país fora, foram incentivadas "pelo Estado Novo, em meados do século passado, para responder a uma questão de organização do setor vitivinícola".
"Sobretudo para resolver um problema de agrupamento de produção, de transformação dessa produção em boas condições e para colocar essa produção no mercado em boas condições, porque a estrutura que havia era baseada em intermediários comerciantes e não oferecia garantias de uma distribuição correta do valor até ao viticultor", contou.
Durante esses primeiros "30 ou 40 anos as adegas foram fazendo cada uma o seu percurso, umas com mais sucesso, outras com menos, mas todas no sentido de resolver este problema", só que, atualmente, "o vinho é um produto já diferente", continuou.
"É um produto ligado a aspetos de valor que têm pouco a ver com a questão técnica e cujo valor pelo consumidor incorpora outras componentes menos tangíveis, que andam à volta da origem, da forma como é feito, da história que é contada, do protagonista e do ator que está por trás. Enfim, uma série de outras valências para as quais as cooperativas não foram desenhadas", argumentou.
Por isso, no entender de João Mota Barroso, o desafio para o futuro das adegas cooperativas, que "já têm um produto do ponto de vista técnico com uma boa performance", passa por terem "uma estratégia de comunicação" e "serem mais eficientes" em despertar o interesse dos consumidores, face aos produtores privados.
"O consumidor ainda não dá o justo valor ao produto das cooperativas e acha que a sua origem não é tão nobre como a de outros produtores privados. Está enganado, muitas vezes o que tem dentro da garrafa é igual ao que estava na cooperativa, mas não o vê assim e são as próprias cooperativas que têm que resolver este problema", defendeu.
A cooperativa tem hoje 230 viticultores associados que cultivam cerca de 2.200 hectares de vinha, distribuídos por 75% de castas tintas e 25% de castas brancas.
RRL // VAM
Lusa/Fim
Comentários