"O conteúdo deste pronunciamento representa uma mudança profunda da política externa de Cabo Verde", afirmou, em conferência de imprensa na Praia, o presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), aludindo a compromissos de Cabo Verde, vinculado através das Nações Unidas a um posicionamento formal sobre o processo da autonomia e independência da República Árabe Saaraui Democrática.

"Estranha-se que uma decisão desta grandeza seja anunciada, por esta via não oficial, fora do país, sem um prévio diálogo ou debate com os cabo-verdianos e sem qualquer informação à oposição parlamentar, designadamente, ao PAICV", criticou ainda Rui Semedo.

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, presidente do Movimento para a Democracia (MpD, no poder desde 2016), iniciou na terça-feira a sua primeira visita oficial a Marrocos, com o Governo a reconhecer a "integralidade territorial" marroquina.

Segundo uma nota do Governo cabo-verdiano, a visita, a convite do chefe do Governo de Marrocos, "constitui um marco importante nas relações entre os dois países", marcada pela realização da segunda Comissão Mista Cabo Verde - Marrocos, em Rabat, sob o tema "Construindo uma Nova Era de Cooperação e Parceria Estratégica e Pragmática entre Cabo Verde e Marrocos".

"A visita ocorre num momento especial das relações entre Cabo Verde e Marrocos, com a formalização do reconhecimento da integridade territorial do Reino de Marrocos por Cabo Verde, entre outras iniciativas que reforçam a base política e diplomática para a exploração e o desenvolvimento da cooperação entre as duas nações", afirmou a mesma nota.

"A cooperação com Marrocos não é de hoje, é antiga, inclusive todos estão lembrados que temos acordos que permitem a circulação da aviação nos nossos espaços, tem havido cooperação na área da formação, temos estudantes que se formaram e continuam a se formar em Marrocos, há muitos anos", apontou Rui Semedo, sublinhando que o partido, que esteve no poder em Cabo Verde de 2001 a 2016, não coloca em causa o interesse da visita do primeiro-ministro, que termina na sexta-feira.

Contudo, Rui Semedo lembrou que o "grande impasse" criado pelas reivindicações territoriais de Marrocos e a guerra que se alastrava naquela região, suscetível de ameaçar a paz naquela zona no norte da África, levou anteriormente as Nações Unidas a decidir pela consulta do povo saaraui, através de um referendo, e que Cabo Verde considerou "realista e pertinente" alinhar-se com esta posição.

Daí que, para o presidente do PAICV, o anúncio do Governo marca o afastamento de Cabo Verde da posição assumida anteriormente pelo país, defendendo que o mesmo deveria ser feita com "responsabilidade, profundidade, clareza, coerência e com elevado sentido de Estado".

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