
"Os desenvolvimentos no setor dos hidrocarbonetos e as reformas com a chancela do Fundo Monetário Internacional (FMI) são importantes, e houve mais financiamento externo, mas o ímpeto é menos positivo que em Angola, porque [os frutos] são mais para o futuro", disse o diretor da Fitch Ratings para África e o Médio Oriente.
Numa conferência virtual sobre a evolução das economias africanas, Toby Iles apontou a "volatilidade no mercado de dívida doméstica" e acrescentou que "isto é uma questão de gestão, mais do que liquidez", vincando: "Queremos ter mais confiança nisso antes de mexermos no 'rating' de Moçambique".
Em novembro do ano passado, a Lusa noticiou que Moçambique estava a pagar com atraso algumas emissões domésticas de cupões do tesouro.
"Os participantes no mercado relatam atrasos pontuais no pagamento de cupões", referiu Álvaro Piris, chefe da missão do FMI em Moçambique, quando questionado sobre o atraso de cerca de duas semanas no pagamento de cupões de 14 de novembro do ano passado.
A Fitch manteve, em fevereiro, a notação de 'CCC+' para a dívida soberana emitida por Moçambique, salientando que a manutenção da opinião abaixo do nível de investimento, e apenas um degrau acima do incumprimento financeiro, "reflete os elevados níveis de dívida do Governo, os amplos défices orçamentais, problemas ainda por resolver na dívida das empresas públicas, baixo PIB 'per capita', fracos indicadores de governação e uma desafiante situação de segurança".
A Fitch Ratings, detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions, analisa 22 países em África, 19 dos quais na África subsaariana, e destes, quase metade, 45%, têm um 'rating' de CCC ou estão em incumprimento financeiro, o que evidencia os "níveis significativos de risco de crédito na região".
Na conferência, os analistas salientaram que apesar de 2023 não ser um ano muito pesado em termos de maturidade da dívida soberana, os dois próximos anos serão difíceis para uma boa parte dos países, que enfrentam o final do prazo dos empréstimos, e terão portanto que pagar a totalidade do que pediram emprestado ou emitiram nos mercados financeiros internacionais.
"Em 2024 haverá mais pressão financeira sobre os países, com o Quénia, Egito e Etiópia a terem de pagar mais de 2 mil milhões de dólares cada, e 2025 será ainda mais difícil, com vários países a enfrentarem a maturidade da dívida", alertou o analista.
Questionado sobre de que forma os países africanos estão a lidar com o aumento das taxas de juro e com os impactos da subida dos preços do petróleo e da inflação, nomeadamente dos bens alimentares, Toby Iles salientou a importância da consolidação orçamental.
"A consolidação orçamental é crucial, estão a tentar desbloquear os mecanismos que permitem aumentar a mobilização de receitas internas, o que é muito difícil historicamente, e estão mais focados na gestão das finanças públicas, ao mesmo tempo que tentam manter e até acelerar o crescimento económico", afirmou, salientando que "a outra opção é a reestruturação" da dívida.
MBA // VM
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