E vais de férias, para a Europa, por ser mais perto, para um país onde pertences igualmente já que Itália tem esse poder no Ocidente.

Percorres as ruas na correria de quem não quer ser mordido pelo sol. Os turistas são formigas indisciplinadas que atravessam para as praças à procura dos sítios do costume. Trazem água e, alguns, sombrinhas de protecção. São asiáticos, são italianos, franceses, ingleses, norte-americanos, argentinos.

Encontram-se nas esplanadas para ver os jogos do Mundial enquanto bebem prosecco e comem salada de mozarella e tomate, melão com presunto e bruschettas com muito basílico. Nas jogadas perigosas há um burburinho e é fácil de perceber quem torce por quem.

Na praça em frente ao Panteão, aí onde repousa o grande, enorme, Rafael, o Mundial tem outro gosto. Rafael, de quem se diz que a Natureza temia pela capacidade que o artista teria de a suplantar e que, na sua morte, sentiu que morria também, está impassível, sem tomar lados.

Roma é profissional na forma como recebe os seus turistas, simpática em doses certas, sem ser invasiva. Os nativos talvez não tenham como apreciar a sua cidade da mesma forma, vivem mergulhados nesta história e na beleza.

E, dentro deste mundo quase irreal - há quem espere ver um Júlio César surgir do nada ou, porque não? Um Astérix, talvez... - desvalorizamos o lixo da cidade (que é imenso), os sacos e saquinhos junto aos postes de iluminação, a ausência total de pessoas a limpar as ruas. Há um lado de bagunça em Itália que se aceita por ser Itália, estão perdoados, digamos assim, e continuamos na certeza de que a geladaria tem 150 sabores únicos para oferecer, figo, melancia, manjericão...

Na Piazza di Spagna somos atropelados literalmente por grupos de asiáticos de telemóvel na mão. Não vão a Santa Maria del Popolo ver os Caravaggios, nada disso, aqui a missa é outra: atacam a Prada e compram, e compram. São uns turistas à parte. Não se encontram com facilidade nas pequenas trattorias da cidade onde se come por dez euros. Não metem conversa com os outros, os que aqui chegam na mesma condição, os que suspiram e se exaltam com os jogos do Mundial noite dentro.

Alguns divertem-se com uma aplicação que permite traduzir o que querem dizer para italiano, mas depois riem-se, de uma forma miúda, e retraem-se. Não importa, as grandes marcas de luxo têm empregados que falam tudo, é o que me diz uma senhora a espreitar o mesmo quadro e com a mesma sensação de aventura sociológica.

Sim, também pertencemos aqui, mas o melhor de viajar é regressar a casa, e Lisboa tem sempre mais encanto quando percebemos que a bagunça, apesar de tudo, é menor, e que há uma beleza enorme no local onde nascemos, o sítio a que pertencemos totalmente.