
Portugal é o quarto pior classificado da Europa Ocidental no Índice de Percepção da Corrupção, perdeu nove posições e ocupa agora o 43.º lugar, o pior de todos os tempos, na tabela que avalia o combate à corrupção no sector público. São 57 pontos numa escala de 100, sempre a cair desde 2015.
Ainda há 25 anos, uma geração, Portugal ocupava a 23.ª posição no ranking e comparava com países como França, Israel, Japão ou Bélgica. Agora, está ao nível da Costa Rica, Botsuana, Ruanda ou Chipre. Que orgulho, não é?
Os políticos portugueses são em grande medida responsáveis por esta degradação. Não gosto de rótulos e não ponho tudo no mesmo saco, mas não há como fugir a isto. Cada vez que, depois de alguma reflexão, penso em escrever sobre um caso, logo aparecem mais dois ou três. Caem como tordos e a realidade ultrapassa sempre a ficção.
Para agravar a falta de vergonha, vivemos num regime de impunidade total, nunca ninguém é responsável por nada. E, deixemo-nos de lérias, se a presunção da inocência é inequívoca enquanto a culpa não é provada pelos tribunais, todos temos o direito, e até o dever, de fazer o julgamento moral de um comportamento. E de o sancionar.
Vamos lá ver, Portugal teve seis primeiros-ministros nos últimos 25 anos, contando com António Guterres, já em fim de mandato, e Durão Barroso e Pedro Santana Lopes (2002-2005), que em conjunto não cumpriram uma legislatura completa.
José Sócrates (2005-2011) está acusado de 28 crimes, o maior escândalo de corrupção da democracia portuguesa, e António Costa (2015-2024) saiu empurrado pela Operação Influencer, que envolveu buscas à residência oficial, onde foram encontrados quase 76 mil euros dentro de livros do seu chefe de gabinete, agora alvo de novo inquérito do Ministério Público por suspeitas de violação de segredo de Estado.
De lá para cá, tem sido um corrupio: o caso das malas, do deputado do Chega Miguel Arruda - ainda vai ser considerado tolinho e inimputável, coitado, em vez de oportunista e ladrão -, prostituição de menores, "uma coisa que aconteceu" a Nuno Pardal, dirigente do Chega, insultos na Assembleia da República, suspeitas de corrupção sobre o vereador do PS Paulo Ferreira, da câmara de Valongo, assinaturas falsas do presidente de junta Tiago Mayan Gonçalves, eleito e expulso pela IL, incompatibilidades e conflitos de interesse, que levaram à demissão do director do SNS Gandra d'Almeida ou do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território Hernâni Dias e a sua substituição por Silvério Regalado, ele próprio um caso.
Por fim, o processo Tutti Frutti, que envolve tantos nomes que me fico pelas siglas PSD e PS: tráfico de influências, branqueamento, burla qualificada, falsificação de documento, abuso de poder e recebimento indevido de vantagem. E já estou sem fôlego.
Não admira que os portugueses achem que "os políticos são todos iguais", ou que "é tudo a mesma coisa". Não é, mas parece. Esta depravação está a minar as instituições e instituições fracas tornam as nações fracas.
Face a todos estes casos, os partidos não podem apenas lavar as mãos como Pilatos, isso não basta. Têm de mudar as regras do jogo. E mudar as regras do jogo não é elogiar o "desprendimento" de alguém que sai do governo sem perceber que errou profundamente, ou chutar para canto uma decisão que compete ao acusado, mas, mais do que isso, aos líderes de partido. Mudar as regras significa tolerância zero. À partida, muito mais do que à saída.
Ser um país sério significa travar isto. É preciso ter na política os melhores, não o refugo ou gente que vê nos cargos públicos apenas uma forma de auto-promoção, de satisfação de uma agenda pessoal. Não é possível continuar a compactuar com esta falta de idoneidade, de rigor, de transparência. E isso deve começar por afastar de cargos partidários aqueles que têm comportamentos inaceitáveis.
Os partidos políticos não podem continuar a deixar passar esta linda falua de obscenidades. Ponto. Não é possível continuar a olhar para a Assembleia da República como se fosse uma casa de horrores - pedi a várias pessoas para dizerem os nomes de 20 deputados competentes, nenhuma conseguiu. Desafio PSD e PS a fazerem acontecer a reforma do sistema eleitoral que tanto dizem querer, mas que sabemos muito bem que não querem. Sob pena de acabarmos com um parlamento cheio de migueis arrudas - e uma mala já é demais.
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