Já existem estudos acerca dos efeitos da pandemia sobre a saúde mental de todos nós. Dia 13 de março faz dois anos que fomos para casa. Estamos melhores, já sabemos mais sobre o vírus, temos vacinas. Ao fim deste tempo de incerteza entrámos na guerra. Para mais, uma guerra cuja ameaça nuclear é iminente. Diz a expressão popular que longe da vista, longe do coração, mas a guerra não está longe da vista, está 24 sobre 24 horas na televisão, na rádio, nos jornais, nas redes sociais. Tornou-se o monotema do momento.

As imagens são terríveis. A desumanidade de tudo o que tem acontecido é devastadora. Se já estávamos deprimidos depois de dois anos de pandemia, e de confinamentos e limitações várias, esta é, para mim, a cereja no topo do mal maior. Nunca imaginei viver a ameaça de uma guerra nuclear. Nunca imaginei ler tanto sobre Putin e, ao mesmo tempo, reler sobre Hitler. Escrevi esta crónica ontem e estou ciente de que amanhã, quando acordar, o mundo pode estar imerso num caos maior.

Quando Emmanuel Macron avisou, depois de uma hora e meia de chamada telefónica com Putin, que o pior está para chegar, fiz uma lista das pessoas que amo e que preferia ter aqui, mesmo ao lado, no caso de um conflito nuclear. Para celebrarmos o amor que temos uns pelos outros, para fazermos refeições bem regadas, para nos rirmos. A trocar as voltas ao medo, driblando o pânico, a angústia. Dizem-me que a vida continua. Talvez. Qualquer pessoa que vá acompanhando as notícias sabe que a vida pode não continuar.

O plano A, elaborado pela Universidade de Princeton, mostra o que seria um conflito nuclear. A simulação afirma que morreriam imediatamente cerca de 90 milhões de pessoas. Teríamos consequências da radioatividade durante vários anos. Teríamos doenças, deformações, incapacidades. Não vale sequer a pena fazer futurologia sobre a vida económica do planeta, basta dizer que seria o fim da civilização como a conhecemos.

Em todos os que viveram uma vida de trabalho, zelando pela família, cumprindo com o Estado, grupo no qual me insiro, o medo é grande. Como será para quem está a começar a sua vida? Para quem se inscreveu na faculdade em tempos de pandemia e vive numa desesperança imensa? Como será para um jovem casal que está a preparar-se para ter o primeiro filho? Estamos unidos pelo medo.