Domingo, fim da tarde. Os grupos de Whatsapp enchiam-se de mensagens encaminhadas demasiadas vezes. Os números fidedignos dos inquéritos à boca das urnas chegaram-nos através de malta que conhece malta que conhece malta que tem um filho que anda no mesmo colégio do sobrinho de uma malta que conhece malta que conhece o cunhado do jardineiro substituto do ex-sogro do técnico de ar-condicionado de uma empresa de sondagens. O facto de haver projecções às oito da noite já era revelador da nossa sofreguidão quanto a saber resultados eleitorais antecipadamente (bastaria esperar quatro horas para saber os resultados oficiais). Mas este ano, como se não bastasse, o povo português, dominado pela ânsia de obter informações fresquinhas, antes das 20h tinha já acesso a projecções de projecções. Somos mesmo muito cuscos.

Nas legislativas de 2022, nem as projecções que resultam das respostas recolhidas à boca das urnas foram certeiras. Porém, tal é incomparável com o fracasso das sondagens realizadas ao longo da campanha, com destaque para a tracking poll da CNN Portugal — que inquiria menos pessoas por dia em relação ao seu voto do que eu nos meus grupos de Whatsapp. A tracking poll começou por ser o sonho molhado do comentador instantâneo, que viria a repetir à exaustão, durante quinze longos dias, que a “tracking poll era útil para, mais do que prever resultados, acompanhar tendências”. Ora, a única tendência que a tracking poll confirmou é a de que as sondagens estão fora de moda.

Os dias seguintes a uma eleição têm sido difíceis para as empresas de sondagens. No entanto, há sempre justificação. Eu gostava de ter a capacidade de arranjar desculpas que um responsável por sondagens desenvolve. A mais habitual é “bom, a sondagem é uma fotografia do momento”. Não sei se concordo. Acho que a sondagem eleitoral se tornou na fotografia do Tinder que ludibria potenciais parceiros, que eventualmente esbarrarão contra a desilusão no dia do encontro. Significa isto que devemos acabar com as sondagens? Não sei. Duvido que consigamos viver sem elas. Não gostar de sondagens depois dos resultados é fácil. Difícil é dispensá-las antes. Dar valor a sondagens é como beber um shot de tequila: no momento é divertido, só que tolda-nos bastante a visão e leva-nos a tomar decisões precipitadas; no dia seguinte, toda a gente concorda que foi a pior ideia de todos os tempos; após a ressaca passar, voltamos a considerar que de vez em quando vale a pena, nem que seja para a malta ter histórias para contar.