Com noticias deste calibre dentro de casa, torna-se difícil dar atenção aos Panama Papers. Não pelos níveis de relevância de cada um dos casos, mas pela proximidade - que todas as leis do jornalismo determinam que interessam mais ao consumidor. É uma rendição à facilidade (a mesma que nos leva a sentir mais profundamente atentados em Bruxelas do que em Ancara, independentemente do número de vitimas…), mas não há como dar-lhe a volta.

Os casos internos destas ultimas semanas, que parecem querer tornar-se recorrentes, e que são bem mais fáceis de entender do que os meandros do dinheiro que navega em paraísos fiscais, demonstram a irrelevância de medidas de austeridade para quem pode "contorná-las", explicam em boa medida fenómenos como o parque automóvel lisboeta, os espectáculos sempre esgotados, os restaurantes cheios - e desanimam quem, apesar de tudo, vai tentando sobreviver ao caos com honestidade.

Apetece desistir, já o disse na semana passada - mas, acima de tudo, impede o cidadão comum de confiar em quem quer que seja.

Um policia que se dedica a desmantelar o tráfico de droga, e é afinal parte integrante desse mesmo negócio? Um chefe de finanças que prefere deixar-se subornar a cumprir a mais básica das suas funções, garantir o cumprimento da lei? Onde chegámos?

E a seguir: o que nos falta saber? Onde está o bando que se segue? Deixámos definitivamente de ter autoridade para, como fazíamos, falar de forma sobranceira sobre a Itália ou os países da América do Sul. Já não observamos o problema - fazemos parte dele. E o Portugal dos últimos anos, a austeridade, a Troika, o empobrecimento generalizado, começa agora a revelar a sua forma de responder à letra. Lamentavelmente, aplica e dá sentido a um ditado popular: ladrão que rouba ladrão…

ESTA SEMANA NÃO PASSO SEM…

O El Pais é um gigante do jornalismo mundial, e o investimento que tem vindo a fazer no universo digital é um dos muitos bons exemplos do que pode vir a ser o futuro do jornalismo, com ou sem papel impresso…

Agora que o Brasil está no topo da informação diária, a edição local do El Pais é indispensável. Que outras razões não houvesse, consegue manter uma independência, face aos diversos interesses em jogo, difícil de distinguir na restante imprensa brasileira…

É aproveitar! A excelente revista "The New Yorker" acaba de lançar a sua app para smartphones: "The New Yorker Today". Além de juntar as diversas frentes em que a revista se tem desmultiplicado (rádio, podcast, etc…), e de actualizações diárias de informação, ainda tem oito mil dos seus melhores cartoons para nos ajudarem a levar a vida a sorrir. Digo "É aproveitar!" porque a fase de lançamento da app é gratuita…

Para dar um cheirinho do que se pode ler na "The New Yorker" online e na nova app, uma crónica da divertida Emma Rathbone (cujo primeiro livro, "The Patterns of Paper Monsters", tarda em chegar até cá…) sobre o significado de cada expressão que usamos para nos despedirmos daqueles a quem mandamos mails: do Bjs ao Abraço, é só adaptar…