A Páscoa é demasiada emoção. Uma pessoa deita-se na sexta, triste, convencido que JC faleceu e no domingo, acorda e aleluia que ele voltou! Não estava nada à espera. Sábado ainda tive alguma esperança que ele voltasse a aparecer — porque tinham dito que fazia milagres e uma pessoa tem sempre uma réstia de esperança — no domingo, sinceramente, já não contava com isso. Estava à espera que houvesse missa do sétimo dia, de Jesus Cristo, etc. Quando soube da Ressurreição até disse aos meus pais – "A avó já sabe que ele voltou? É melhor dizer-lhe devagar porque com a felicidade pode ter qualquer coisa".

Por acaso, preferia que JC tivesse regressado dos mortos ao fim de três horas em vez de três dias.  As pessoas ficavam na dúvida se tinha mesmo falecido ou se só estava desmaiado e não tinha havido tanta histeria.

Tenho a teoria que o domingo de Páscoa é que devia ser o dia de Halloween. Pessoas a sair do túmulo, mortos vivos com três dias, etc. Sempre que conto esta ideia à minha avó, ela diz – “Não digas isso que Deus castiga-te. Deus vê tudo, seu malandro”. Não acredito. Deus não pode ver tudo, tudo. Há de certeza certas coisas que ele não topa. Como por exemplo, truques de magia, se forem bem feitos, anões de camuflado em Monsanto e aposto que Deus também não apanha aqueles foras de jogo muito à queima.

Com excepção dos filmes bíblicos e de não poder tomar RedBull na sexta (porque aquilo tem taurina e eu não bebo carne na sexta-feira santa) não tenho nada de especial contra a Páscoa. Hoje em dia, a Páscoa já não tem a carga dramática que tinha. Nos saudosos anos 70, na sexta e sábado que antecediam o domingo de Páscoa, na rádio e na televisão só tocava música clássica. Era uma chatice e durante algum tempo eu julgava que tinha sido Mozart quem tinha morrido na cruz.

Vou confessar que o que mais aprecio na Páscoa são as amêndoas. Pode ser pecado mas acho que a Paixão de Cristo é menor que a minha paixão por amêndoas de licor. As amêndoas de licor são o Canderel dos bêbedos. Já apanhei uma bebedeira com um quilo de amêndoas de licor em forma de tremoço. Mas, se calhar, as vinte imperiais que as acompanharam também ajudaram. Normalmente, começo por escolher as ervilhas, depois, junto as cenouras e acrescento-lhe as pombas. Fica uma maravilha. É uma espécie de jardineira de açúcar.

Também gosto das amêndoas francesas, mas só das brancas e cor-de-rosas,  que é a cor natural delas quando não estão em cativeiro. As azuis e as verdes fazem mal. Têm corantes de varejeira.

Depois temos as amêndoas torradas. Que não passam de miolo de amêndoa coberto de açúcar caramelizado e cacau. São as mais feias. Parecem a vista que o Saramago tinha da casa em Lanzarote.

Não podemos esquecer  as amêndoas de açúcar, ou Amêndoas Molar, que são 14% de miolo de amêndoa coberto de açúcar em calda e cristais. Chamam-se molar porque aquilo destrói molares e caninos em segundos. É uma amêndoa coberta de cáries. Uma vez que se agarre a um dente só sai no fim do Verão. Finalmente, temos as amêndoas pinhão, que servem para os anões poderem festejar a Páscoa como os grandes.

Para mim a Páscoa é isto. Amêndoas e ir esconder ovos para os miúdos. O ano passado escondi tão bem que só encontrámos metade. Eu próprio me perdi a esconder os ovos e tive de ligar para casa. Escondi alguns em sítios que nem tenho coragem de lá voltar. Só eu sei o que penei, para enfiar um kinder surpresa numa colmeia. Se é surpresa, que seja mesmo uma surpresa valente.

Sugestões do autor:

1. Uma série — A terceira temporada de “Fargo” a adaptação televisiva do clássico homónimo dos irmãos Coen, e a minha série favorita, estreia a 19 de abril nos Estados Unidos e a 30 de abril em Portugal no TVSéries. Já aí anda o trailer.

2. Um concerto — agendado para 21 de Abril pelas 23h00, nas catacumbas do meu antigo liceu, o Liceu Camões, a não perder a festa de antecipação da décima quarta edição do IndieLisboa, com os enormes Pop Dell’Arte.

3. Um livro — “1933 Foi um Mau Ano”, uma oportunidade de conhecer a escrita única de John Fante (a não perder o chamado Quarteto de Bandini), numa obra publicada este mês pela Editora Alfagura