A retórica anti-imigração de Trump deu asas à campanha do MORENA (o Movimento de Renovação Nacional), com o coração político à esquerda. O presidente agora eleito, Andrés Manuel Lopez Obrador (tratam-no pelas iniciais, AMLO) fez da garantia de que não deixará construir o muro na fronteira um dos trunfos eleitorais – embora as promessas anti-corrupção e anti-cartéis tenham sido as mais poderosas. Na Europa, a crise dos migrantes parece cada vez mais um pretexto para derrubar os líderes que querem uma Europa forte e coesa. Os adversários da União dentro da União sabem que desta vez quem está na Casa Branca a comandar a política dos Estados Unidos também não está interessado numa Europa forte, antes pelo contrário.

A integração europeia avançou na segunda metade do século XX, com a visão de estadistas europeus e com alto patrocínio político dos Estados Unidos da América, a quem interessava uma Europa forte para fazer tampão ao expansionismo soviético. Acabada a Guerra Fria, a Europa deixou de ser palco estratégico principal para os EUA, mas continuou a ser uma parte relevante no sistema multilateral de alianças, tanto as económicas como as militares, políticas e culturais.

Com Trump, tudo mudou. A Europa deixou de ser vista como a aliada preferida. O mundo de Trump assenta em três impérios (EUA, China e Rússia) que controlam o mundo. As amizades de Trump estão muito mais em Israel e na Arábia Saudita do que na União Europeia.

Os líderes de países do Leste Europeu que se serviram muito da solidariedade europeia para construírem (na Hungria, na Polónia, na Eslováquia, na República Checa) o seu futuro pós-soviético, mas que têm ideologia nacionalista, oposta aos ideais fundadores da União Europeia, perceberam que, com Trump em Washington, a ocasião está madura para avançarem contra a União.

A crise dos migrantes é um pretexto mesmo a calhar. Há uma crise com o acolhimento de migrantes na Europa, sim, mas nada que se compare com o que aconteceu há três anos. Entre 2015 e 2016, entraram na Europa (dados Frontex, a agência europeia de fronteiras), à volta de 1,5 milhões de pessoas, grande parte formada por refugiados que fugiam da guerra da Síria e de outros conflitos do Médio Oriente. Em 2017, a queda foi brusca para pouco mais de 200 mil. Os números do primeiro semestre deste ano são semelhantes aos do mesmo período de 2017. Confirma-se que a pressão migratória está a moderar-se, sendo que com escalada, como sempre, nos meses da primavera e verão em que o Mediterrâneo está menos hostil para a travessia em barcos que deveriam estar fora de uso. Há menos gente na travessia embora, alertam a Cruz Vermelha Internacional e as ONG, os perigos estejam maiores.

A exploração do medo de uma invasão de migrantes portadores de outras culturas parece cada vez mais parte de uma estratégia usada por forças nacionalistas e populistas para o assalto às posições de defensores da Europa unida, forte e coesa. O movimento xenófobo gerado no Leste da Europa chegou à Áustria e levou a melhor nas eleições do passado outono. Depois, alastrou a Itália, com essas forças anti-sistema a triunfarem nas eleições de março. Na Alemanha, em setembro, já tinha irrompido o AfD, força radical de direita, com 92 deputados.

Agora, é a própria CSU, aliada histórica da CDU de Merkel (antes, de Kohl, Barzel, Kiesinger, Erhard e Adenauer) a colocar a chanceler e o seu governo no fio da navalha, com recurso ao mesmo pretexto anti-migrantes. O líder da CSU, partido cristão social bávaro que teve como expoente Franz Josef-Strauss, arquiteto da aliança com a CDU, está agora a promover o braço de ferro com Merkel sobre a política migratória, para assim tentar conter o avanço na Baviera da direita radical AfD com posições ferozmente anti-migrantes.

A crise dos migrantes mostra-se assim, sobretudo, uma crise de políticos. Falta de líderes políticos com valores de solidariedade conforme os princípios fundadores da União Europeia. Com a América de Trump a voltar costas à Europa, o que hoje se vê como forças de resistência em defesa da União Europeia forte é um eixo político com pilares em Lisboa, Madrid, Paris e (até ver) Berlim.

Trump há-de gostar de ver a ideia da União Europeia assim a afogar-se na indiferença perante os migrantes. É provável, no entanto, que esteja incomodado com o voto de 89 milhões de mexicanos. As eleições deste domingo neste enorme país da América Central mobilizaram um mar de gente: tratava-se de eleger um presidente da República, 9 governadores, 128 senadores e 500 deputados. Implicando imediatamente 3.000 altos cargos públicos. Os resultados das diferentes votações estão a mostrar uma revolução, com derrube do regime dos tradicionais grupos de poder no México. O novo presidente, López Obrador e a sua base política MORENA, tem forte cariz social e está voltado para a esquerda. Resta saber se vão conseguir, como tanto prometeram, desmantelar o sistema de corrupção generalizada e reduzir os tremendos níveis de violência.

OUTRAS NOTAS, VIRADAS PARA O MUNDIAL DE FUTEBOL

O Rússia 2018 está a trazer novos rostos e novas equipas para o topo do futebol mundial. A equipa mais emergente é a da Bélgica, cheia de futebolistas que já estão a impor-se. A seleção do México conseguirá – diante do Brasil – ser a outra equipa a superar gigantes?

A Bola de Ouro de melhor futebolista tende sempre a ser entregue a uma estrela da equipa ganhadora do principal torneio do ano. Messi já está de fora. Cristiano Ronaldo, mesmo com uma grande Champions e glorioso arranque do Mundial, também parece fora do topo do pódio. Será a vez de Neymar, o estilista do Brasil? De M´Bappé, a fulgurante revelação francesa? De Cavani, o inspirado goleador uruguaio? Um dado que faz pensar: todas estas estrelas jogam no PSG, que também tem Thiago Silva, capitão do Brasil. Os campeões de França, até agora com fiascos sucessivos na Champions, preparam-se para ter na baliza uma lenda do futebol: Gianluigi Buffon. Bem poderia já ter sido Bola de Ouro.