Claro que qualquer acto de violência é reprovável. E não é isso que se discute ou coloca em causa, julgo eu, quando se compreende a atitude de Will Smith no seu acto irreflectido de amor. Não que o amor precise “destas coisas”, e muito menos, que a violência se justifique em prol dele ou que seja um acto de amor desejável, porque certamente que existem actos muito mais bonitos. Mas também não podemos negar, que quando alguém que amamos se magoa, a agressividade toma conta de nós (como é natural) e rangemos os dentes num “chega para lá” que é suposto intimidar. Por protecção. Por amor. Porque o olhar desamparado da pessoa que amamos nos magoa de tal forma, que a raiva por quem a magoou nos invade. E num acto impulsivo, nem sempre agimos como gostaríamos, e sem desculpas, ultrapassamos o limite do razoável.

Mas vejamos: se por um lado a agressividade e os limites são cruciais para o nosso bem-estar e relações saudáveis, é quando passamos de agressividade a violência que tudo se complica. E qualquer acto violento, não é permitido e deve ter consequências. Mas também é verdade que este pode ser compreendido, o que não significa que seja desculpável (colocando os pontos nos i’s).

Posto isto, confesso que me questionei bastante quando ao fazer scroll pelas notícias do dia, me pareceu que é sempre mais fácil criticarmos a violência quando esta é física, porque é óbvia e não se esconde entre ditos e não ditos, sem equacionar que a violência física não é mais grave do que a violência psicológica e que todas as pessoas têm o seu limite, e o humor também deveria ter. Bem sei que um “estou a brincar” se torna tão facilmente na desculpa perfeita para se dizer o que se deseja, com a ideia de que por ser a brincar então não ofende. Nem poderia. E também sei que é assim que muitos vão drenando os seus rancores e raivas, sempre numa postura escondida e um pouco cobarde, mas sem nunca olhar o outro e, pela primeira vez, serem verdadeiros.

Mas questiono os limites do humor e se gozar com a condição de alguém sem o seu consentimento ou relação, não tendo em consideração o que pode significar para essa pessoa ou família, num acto despido de amor e empatia, também é violência (e é aqui que este acto de “humor” difere bastante do programa “Tabu” de Bruno Nogueira, depois de muitas comparações infelizes que li). Daquela invisível para quem não quer ver. Mais ainda, quando não se tem em consideração que sendo público o caso de alopecia de Jada Smith (e principalmente por isso), se expõe em praça pública e deixa a nu, imagino eu, uma dor inerente a uma doença extremamente dura e exigente a nível emocional, principalmente para quem trabalha com a imagem (não descurando todos os outros).

Nada justifica a violência física, é verdade. Mas nada deveria justificar qualquer tipo de violência. E se um dos casos foi premeditado e escrito, o outro foi impulsivo e por isso, irreflectido. Qual o que assusta mais? Fica para pensarmos juntos…

*A autora escreve de acordo com o Antigo Acordo Ortográfico