Esta semana pudemos todos assistir ao vídeo em que os youtubers Wuant e Owhanna anunciam o fim do seu namoro. Ou melhor, o vídeo em que o Wuant, capa da última edição da Forbes por ser o youtuber mais conhecido e mais rico do país, informa o mundo da sua decisão – claramente unilateral – rindo-se, enquanto ela chora, explicando que há dois anos que pensava em acabar, e que agora queria só ter novas experiências mas que só via o futuro com ela e, para aligeirar o ambiente (o dela, em clara tristeza) ainda solta um pedacinho de flatulência, num hilariante momento de requintado humor. Toda uma experiência de encher o coração.
Agora, podemos olhar para isto sob vários ângulos: o neoliberalismo omnipresente e a cegueira voluntária das marcas que enriquecem estes criadores de conteúdos sem quaisquer critérios, o voyeurismo social de todos nós (mesmo que a diferentes níveis) que continuamos complacentemente a alimentar, ou apenas o facto, tão óbvio quanto indesmentível, de o Wuant ser uma besta enquanto epítome de macho auto-centrado. Ficam para reflexão, para quem tiver vagar, que é coisa que também já não se tem muito.
Como hodiernamente cada semana que passa é mais pejada de estupidez do que a humanidade deveria ter de aguentar por ano, mais casos tivemos nestes dias. Um dos meus preferidos foi a indignação de tanta gente – pasme-se, todos homens – com a ideia da possibilidade de haver distribuição gratuita de tampões e pensos higiénicos em Portugal. Para quem, como todos os indignados, não tem as faculdades mentais suficientes – e nem são assim tantas – para perceber como uma medida destas podia ser muito importante tanto para igualdade de género como até a de classes sociais, podem sempre assimilar que, a ser gratuito, seria para toda a gente. E poderiam então usar tampões encharcados em vodka para os inserir em cavidades corporais. Li na internet que é um mimo.
Na estupidificação esplendorosa desta semana, destaco ainda, por um lado a “homenagem” aos mortos na 2ª Circular que consistiu em dezenas de carros e motas, e por outro, o padre de Oeiras a benzer os novos carros da polícia do município em 2020. Sim, em Portugal, que, diz-se por aí, é um Estado laico. Por último, enquanto André Ventura anuncia a candidatura a Belém e diz que, se ganhar, uma das ideias é dissolver a Assembleia e instalar uma quarta República porque esta não serve, a direita portuguesa o que faz? Convoca uma Aula Magna entre líderes e outros, incluindo caro o Ventura.
Está em curso, está, no sentido em que já está instalada e não pára de crescer. Mas com tantos sinais por todo o lado, nunca poderemos dizer que não fomos avisados.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- O Milagre Espinosa: Livro incrível. Só agora estou a descobrir Espinosa, um dos maiores génios da humanidade.
- Lugar Estranho: 13 de março no Porto e 3 de abril em Lisboa.
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