Recentemente, vimos publicado no SAPO24 um artigo sobre um novo estabelecimento de Óptica, em Lisboa, com o título “Por que é que os óculos são tão caros? A portuguesa Shaub & Fischer pensou numa nova solução”. Os responsáveis por esta empresa, que transitou recentemente do mercado online para o físico, alegam no artigo que as lentes e os óculos são mais caros nas ópticas “convencionais”.

Segundo o responsável pela nova empresa a operar no mercado: “Estamos a falar de óculos cuja matéria prima é bastante barata: a maioria das lentes são feitas de plástico...”. Para a Associação Nacional dos Ópticos (ANO) – entidade que representa as empresas de Óptica suas Associadas – esta afirmação revela falta de conhecimento técnico, e vamos explicar porquê.

Para isso, precisamos de lhe explicar a si, consumidor, e muito provavelmente utilizador de óculos, o que é uma lente oftálmica, as suas características e a questão “preço vs. qualidade” da mesma.

A verdade é que existe no mercado uma grande discrepância na oferta de preços, o que conduz, naturalmente a uma desconfiança por parte do consumidor.

As lentes oftálmicas são um dispositivo médico classe 1. Como tal, os fabricantes estão obrigados a uma série de normas e os próprios produtos são sujeitos a aprovação – no caso de Portugal, pelo Infarmed. Nos dias de hoje, 99% das lentes oftálmicas são orgânicas, ou seja, são feitas de polímeros. Os restantes 1% são lentes minerais, a que chamamos de vidro óptico. Ou seja, e para sublinhar: não, a maioria das lentes não são feitas de plástico.

Mas porquê, então, a diferença de preços?

A cada dois anos, os fabricantes com departamentos de Investigação e Desenvolvimento apresentam novas lentes com características que beneficiam a visão do consumidor. E essas novas lentes têm sempre um valor superior às que já estão no mercado porque exigem muitas horas de trabalho de equipas especializadas no desenvolvimento de novos produtos e de ensaios clínicos. Além disso, é importante que saiba que a produção de uma lente envolve um complexo e demorado processo, e a utilização de diferentes matérias-primas até ao produto final.

Não querendo entrar num campo demasiado técnico, mas necessário, as lentes orgânicas são feitas a partir da junção de um monómero e de um catalisador (endurecedor). Quando misturados, são depois injectados entre dois moldes de vidro. Esses moldes têm um número limitado de utilizações para que sejam substituídos. Depois das peças cheias com o polímero, vão para uma estufa para passarem do estado líquido ao sólido. Este processo pode demorar 19 horas, dependendo da curva, espessura e diâmetro da lente ou semi-acabado. A diminuição do tempo aumenta a produtividade, mas diminui propriedades ópticas e de durabilidade da lente. Ou seja, quanto mais barata a lente for, menos tempo demorou o seu processo de fabrico.

Mais os tratamentos. Não me vou alongar na explicação, mas existem variados tratamentos de superfície numa lente, que a podem igualmente encarecer. Vou só dar o exemplo de um dos tratamentos mais conhecidos: o anti-reflexo. Este tratamento é aplicado em câmaras de vácuo, nas quais diferentes minerais são fundidos e depositados nas superfícies interna e externa da lente. Os minérios utilizados devem ter uma pureza de 99,9%. Uma diferença de apenas 0,2% na pureza faz variar o preço muitas vezes para um terço do tratamento de pureza mais elevada.

Por fim, o controlo de qualidade. As lentes de fabrico, as progressivas e monofocais personalizadas, são produzidas individualmente em máquinas de precisão de controlo numérico. A não calibração destas máquinas pode incorrer em defeitos e aberrações nas lentes, disfarçados posteriormente pelo polimento. Daí que todas as lentes devam ser 100% verificadas em todos os parâmetros ópticos – o que custa tempo... e dinheiro!

Esclarecido o facto por que é que as lentes (de qualidade) podem ser, de facto, mais caras, temos outros pontos a clarificar.

Por exemplo, não podemos esquecer o início do artigo em questão, que se inicia com uma falácia: “Se usa óculos, sabe que o processo de comprar nem sempre é fácil: catálogos com dezenas de páginas, tratamentos de lentes extra e um preço de montra que raramente é o final. Acabamos invariavelmente na dúvida sobre o preço que vamos pagar.” Este é um raciocínio errado.

Enquanto associação que representa as empresas de Óptica importa esclarecer alguns pontos: nas empresas de Óptica em Portugal é obrigatória a exibição dos preços dos artigos e, no caso das lentes oftálmicas, é sempre indicado ao consumidor final o valor das lentes e de todas as suas especificidades. Logo, não há dúvidas sobre o preço final a pagar pelo consumidor.

Ópticas Associadas à ANO

A Óptica não é um sector regulamentado em Portugal, mas, nas Ópticas Associadas ANO, é aplicado um Regulamento Interno, criado pela própria Associação, que uniformiza as práticas comerciais e estabelece normas técnicas. Além disso, também devido às exigências de autorregulação que a ANO estabelece no mercado, os nossos profissionais são especializados em áreas fundamentais como atendimento, serviço pós-venda, em produtos e equipamentos de qualidade, e os nossos estabelecimentos são equipados com tecnologia de vanguarda e obedecem a todas as normas legais. Ou seja, uma coisa é certa: nas Ópticas Associadas ANO, a excelência no serviço, nos profissionais, nos produtos e equipamentos está garantida.

Por tudo isto, afirmamos: sim, as lentes não são todas iguais, e as Ópticas também não.