Todas as dúvidas estão no ar e terão de começar a ter resposta já nas próximas horas: Puigdemont vai ou não voltar esta terça-feira a Barcelona para ser investido na presidência do governo catalão e, logo a seguir, ingressar na prisão? Se optar por permanecer fora, em Bruxelas, perante a obrigatoriedade de eleição do ou da presidente do governo, Puigdemont indicará um nome alternativo para o cargo (as opções mais na calha seriam Jordi Turull ou Elsa Artadi)? Será que Puigdemont vai recusar algum recuo e, assim, provocar um bloqueio institucional?
A acontecer esse bloqueio, que consequências vai ter? O entendimento entre as duas principais forças independentistas, Junts per Catalunya, de Puigdmont, em auto-exílio, e Esquerra Republicana, de Junqueras, que está preso, vai aguentar-se ou rebenta? Que consequência teria essa divisão das cúpulas independentistas?
Tendo em conta que o parlamento catalão continua a ter maioria independentista, o possível bloqueio institucional, poderia levar o governo de Madrid a forçar novas eleições? A ser assim, alguém acredita que alguma coisa mudaria?
Perante o impasse, apesar de os catalães terem respondido às eleições convocadas por Madrid com a confirmação de maioria independentista, será que o governo central vai prolongar a atual tomada da condução da administração da Catalunha por via do famoso artigo 155? Como vão reagir os cidadãos e os serviços públicos?
No meio de tudo isto, o governo de Rajoy, com Soraya Sáenz de Santamaria como chefe de operações, vai conseguir serenar e agir em relação à Catalunha com postura de Estado? Ou vai continuar com operações desconcertantes como a de mobilização de forças policiais para vigiar os caminhos pelas montanhas, quem segue nos barcos de pesca e fazer abrir os porta-bagagens dos carros que cruzam a fronteira numa obsessão para garantir que Puigdemont não chega ao parlamento da Catalunha, escapando às polícias?
Será que o governo de Rajoy e Santamaria, que fez do legalismo a principal bandeira, vai conseguir resistir a continuar com atropelos como a convocação do Conselho de Estado e do Supremo Tribunal para forçar a anulação judicial preventiva da sessão do parlamento catalão que poderia investir Puigdemont por Skype ou outra via telemática? Será que o poder judicial vai continuar a funcionar como braço poderoso da vontade política de Madrid? Como interpretar o facto de o habitualmente lento poder judicial responder e passar à ação em escassa meia dúzia de horas sempre que o assunto é a Catalunha independentista? Onde fica a separação de poderes – o político e o judicial?
O jogo entre o gato (o governo de Madrid, apoiado pelo rei e pelo poder judicial) e o rato (Puigdemont, a encabeçar o independentismo) entra numa nova fase crítica. Terão de aparecer respostas para as tantas questões que estão no ar. Há sério risco na vertigem do conflito.
Falta que se possa respirar fundo, conseguir serenidade, responsabilidade, sensatez, pragmatismo e visão. É a contar com isso que os cidadãos elegem os políticos. Nesta questão catalã, de um lado e do outro, não têm estado nada à altura da grandeza devida.
A TER EM CONTA:
Trump sobe esta terça-feira à tribuna do Congresso dos Estados Unidos da América, em Washington, para pronunciar um discurso que costuma ser considerado como a mais importante exposição presidencial em cada ano, o discurso sobre o estado da nação. Trump tem o trunfo de a economia estar pujante.
Uma mulher escolhida para liderar uma grande orquestra ainda é tão raro que faz notícia. Vai acontecer com a americana Marin Alsop a dirigir a famosa Sinfónica de Viena. Depois, num dos próximos dias, o que é que o procurador Mueller vai querer perguntar a Trump?
Qual será o limite para a lenda Federer?
Os livros já publicados mostram que o que Elena Ferrante escreve, em especial as personagens femininas que nos traz, é obra de arte. Agora, também há Ferrante cronista, aos sábados, no The Guardian.
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