Os Estados Unidos da América, na sua política de tolerância zero à imigração, são um país que coloca crianças em jaulas, separa-as dos pais, algumas são dadas como desaparecidas. Tal como nos campos nazis, esses contra-monumentos, como lhes chamou Vergílio Ferreira depois de visitar Dachau, os funcionários são instruídos para se absterem de contacto físico com as crianças. Não há espaço para o afecto. O que os move não é o consolo e a rápida solução para estas crianças, com dignidade, é o racismo. Não há outra forma de entender.

Jornalistas como Raquel Maddow choram em directo na televisão ao receber notícias sobre estas crianças enjauladas e ficam incapazes de continuar a ler o que lhes acabou de chegar. Os comentários nas redes sociais sobem de tom. A mulher de Donald Trump reclama como se tivesse espaço ou credibilidade para o fazer e o seu marido, tão amigo do senhor Putin, assobia para o lado e manda retirar os Estados Unidos do Conselho dos Direitos Humanos a pretexto de não fazerem justiça àquilo que deveriam representar. A sério?

A resistência durante a segunda guerra mundial fez-se em vários palcos, mais ou menos organizados. Importa que a Europa possa fazer resistência ao que se passa do outro lado do Atlântico? Importaria se a Europa fosse forte, consolidada nos mesmos princípios e valores, unida e coesa, como foi o sonho dos fundadores da união europeia. Não é.

Infelizmente, alguns países europeus caminham para o mesmo tipo de política que se pratica sob a batuta do senhor Trump. Racismo, xenofobia, discriminação. Itália, Hungria e quais serão os países que se seguem?

Portugal, no seu esquema eterno de brandos costumes, não tem voz política para liderar qualquer resistência, bem sei, mas é pena. Não creio que a diplomacia seja a chave para resolver o nosso futuro. A pergunta impõe-se: que futuro queremos? Um futuro de gente branca para um lado e o resto em jaulas? Não vimos já o resultado destas políticas?

Numa entrevista ao Jornal de Negócios, Franco Berardi, o filósofo italiano, afirma: “A solidariedade é a maior ameaça para o capitalismo financeiro. A solidariedade é o lado político da empatia, do prazer de estarmos juntos. E quando as pessoas gostam mais de estar juntas do que de competir entre si, isso significa que o capitalismo financeiro está condenado. Daí que a dimensão da empatia, da amizade, esteja a ser destruída pelo capitalismo financeiro”.

Na vertigem do mundo, é urgente parar, pensar e agir para nos salvar, para nos restituir a dignidade, para que o século XXI não seja mais um século de horror na História.