Felizmente, contra esta aberração da identidade de género promovida por “esquerdopatas” (epíteto muito utilizado por grandes figuras do conservadorismo e da defesa da família tradicional como Bolsonaro ou José Pinto-Coelho, líder do PNR) sob a falsa alçada da promoção de liberdade individual e do direito de todos à felicidade, têm sido várias as vozes que, em uníssono como um coro de Igreja, se têm levantado.

Entre a horda de cronistas do Observador (todos formados na escola C+S Bannon-Bolsonaro-Trump de Santa Maria Retrógada de Cima), como a Laurinda Alves, o Pedro Afonso ou o Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, e vários elementos do CDS, destaco o líder da Juventude Popular, Francisco Rodrigues dos Santos, apontado como futuro líder do CDS e conhecido como Chicão.

Na forma de comunicado que repudia essa blasfémia que é a ideologia de género, Chicão pegou em vários excertos do despacho que visa aplicar a lei (há meses aprovada no Parlamento) e descontextualizou-os, de forma a espalhar uma série de mentiras sobre a mesma, que desinformam e propagam o medo e o ódio. Claro que há gente que acha esta técnica – só ao alcance de grandes estadistas como os do nome da escola supracitada, ou até Salvini e Le Pen, - é eticamente errada. Mas isso é gente que não percebe que, ao mentir, estas pessoas estão a salvaguardar um bem maior, que neste caso se trata do não colocar em causa e incomodar os seus dogmas e valores tradicionais só porque, de repente, alguém se lembrou que toda a gente merece os mesmos direitos de reconhecimento de género consoante a forma como se sente.

É verdade que o despacho é muito claro em relação às condições em que as crianças em processo de transição de género podem escolher a casa-de-banho aonde ir, como o facto de precisarem de ter 16 ou mais anos, estarem efectivamente em processo clínico de transição e terem o consentimento dos pais. Mas para Chicão e tantos outros espalharem a sua mensagem e expressarem o seu enorme medo pela diferença (a bem de todos nós, claro está), é mais fácil espalhar coisas como analogias com orgias infantis e violações em série porque vai ser tudo uma bandalheira sem regras.

Gosto do estilo do Chicão. É um assumido e fervoroso adepto de touradas, na qual os animais são torturados para seu prazer. Mas é contra as pessoas que vivem anos e anos estigmatizadas, ostracizadas e a sentirem que são menos que os outros — só porque não se enquadram na “normalidade” imposta — poderem identificar-se livremente com o género que bem lhes apetecer. Outro aspecto que o Chicão, CDS e afins, referem muito sobre este assunto é a “biologia” e a “ciência”. Tendo em conta que a Assunção Cristas chegou a dizer, numa altura de seca, ia rezar para que chovesse, faz de facto imenso sentido que agora sejam tão apologistas da Ciência. A verdade é que o género está no cérebro, só diz respeito àquilo que cada um sente, e a biologia diz respeito apenas aos órgãos que possui. O que traz felicidade às pessoas é a forma como se se sentem, e não os órgãos que possuem, mas há que ter calma com essa felicidade se for causa de desconforto de pessoas que não têm nada a ver com isso.

Posto isto, claro que é, no mínimo, estranho que o Chicão e seus compinchas associem logo um despacho que salvaguarde o interesse de todos os géneros e orientações sexuais, de uma forma tão clara, a orgias entre crianças e coisas que tais. Não sei que livros andam a ler. Mas ainda bem que lutam tão arduamente para que as suas mentes não sejam realidade. Mesmo que seja a propagar mentiras.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- VISÃO:  Excelente edição a desta semana.

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