Duas dezenas de associações antirracistas acusaram a Frente Unitária Antifascista de ter organizado as manifestações “Unidos contra o Fascismo” de forma “desleal, oportunista e sectária”. Exato, a primeira frase desta crónica pode parecer a resposta de um assistente pessoal eletrónico ao pedido “Siri, mostra-me a coisa mais reveladora da autofagia da esquerda portuguesa”, mas é mesmo uma notícia. No momento em que a extrema-direita reúne no centro do campo num grito de guerra para rapidamente atingir os seus nefastos objetivos, a esquerda tem um defesa central a sugerir a um médio centro que pratique sodomia (bom português, Lindelof).

A Frente Unitária Antifascista tem 20 associações contra ela. Pode ser uma Frente, acredito que seja Antifascista, mas não se pode chamar Unitária. Claro que o nome não é tudo. Por exemplo, a União Democrática Portuguesa não era uma união assim tão grande, já que teve de se juntar com outros dois movimentos, em 1999, para formar o Bloco de Esquerda. Talvez seja um mau presságio pôr “união” no nome. Notemos que os Estados Unidos e o Reino Unido são países bastante fragmentados; o União de Leiria chegou a estar em pedaços e o UNO é curiosamente o jogo de cartas que mais divide famílias. É uma maldição.

No entanto, reparem que foi necessária alguma união às 20 associações que se posicionaram contra a Frente Unitária para organizar a tomada de posição de todas elas contra a Frente Unitária. Deve ter sido uma videochamada caótica entre eles, mas eficaz. Na volta, essas 20 é que são uma Frente Unitária. Não sei porque não fundam a Frente Unitária Dissidente da Frente Unitária Antifascista. Considero que terá impacto e tração junto do público.

Já a extrema-direita está perfeitamente confortável com todas as coisas que em André Ventura são “desleais, oportunistas e sectárias”. E para ele isto são elogios. Naturalmente, não questionar a liderança é próprio da ideologia que acarinham. Sendo que, no autoritarismo de tasca de André Ventura, não se traduz tanto no culto ao chefe, mas no culto ó chefe traga-me mais uma mini. Daí ser abusivo chamar-lhe fascismo, claro.

Portugal deixou de ser a aldeia gaulesa isolada que ainda não tinha sido ocupada por guarnições da extrema-direita. Depois das ameaças de morte da passada semana, talvez não seja altura para que antifascistas lavem as balaclavas sujas em público. Um casal, por muito conflituoso que seja, não vai ter uma discussão porque ele comprou tomate de rama quando o que tinha sido pedido era tomate chucha no momento em que reparam que um gatuno lhes entrou pela casa. Talvez não seja o momento. Não há política sem debate, mas querelas pessoais e politiquice? Há que varrê-las para debaixo da alc-antifa. É preciso que haja quem resista, ainda e sempre, ao divisor.

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