À mesa, num esplanada lambida pelo sol que tanto está como não está, quatro mulheres almoçam. É um almoço que se faz uma vez por ano a propósito do aniversário de uma destas mulheres. Duas trabalham por conta própria, têm empresas, uma trabalha para o Estado e outra para uma empresa privada. As duas últimas têm o conforto do ordenado ao fim do mês. As duas primeiras nem por isso.

Com empresas pequenas, estas mulheres possuem um rol triste de histórias. Uma delas está à espera que uma câmara municipal se digne a pagar nove facturas entregues durante 2018. Dizem-lhe que talvez as primeiras facturas possam ser pagas até ao fim do mês. “Tenho vinte e dois mil euros fora, para receber. A maioria são facturas passadas a entidades públicas, mas não há um pingo de decência”.

O Estado é esse invisível ser poderoso e omnipotente que tudo sabe e tudo faz. Quer uma economia forte, brada aos céus o apoio às empresas, tenham elas o tamanho que tiverem, porém não funciona, as pequenas empresas sobrevivem num constante exercício acrobático de excelência que, tantas vezes, corre o risco de dar com os burrinhos na água. Há ordenados para pagar, despesas fixas. Os clientes não querem saber, que importância tem? O trabalho está feito e entregue.

O caso da situação desta mulher só nos permite concluir que o Estado financia as suas actividades, uma parte delas, com o trabalho de uma pequena empresa e não se rala se está a descapitalizar a dita cuja, que se esmifrou para cumprir a tempo e horas, com qualidade e profissionalismo.

Outra destas mulheres conta que não é só o trabalho, são também as reclamações. Em 2006 fez uma reclamação às finanças porque não quiseram considerar direitos de autor no âmbito do IRS. Conclusão? Há dois meses recebeu por fim a restituição na conta, sem aviso. “Soube-me bem, mas caramba, treze anos depois?”

Pois. É aqui que estamos. Podem dizer que a economia e as estatísticas isto e aquilo, naquela mesa os disparates prosseguiram ao ponto de não existir espaço nesta crónica para contar o resto. O resto, como podem imaginar, é
igualmente mau.