Então, no meio de comentários mais ou menos festivos numa página de uma influencer encontro um comentário que reza assim: sou muito gostosa na cama. Fico intrigada, afinal a publicação dizia respeito ao estado do mundo e do desperdício alimentar, portanto não fazia sentido. Continuei no feed do meu Instagram e dou com outros comentários inusitados e sempre algo provocadores. Mas as pessoas estão malucas e publicam coisas destas só porque sim? Errado.

Uma amiga tem a bondade de me explicar. Se clicar nessa personagem que deixou o dito comentário estou a rechear uma determinada conta. Quando a mesma chegar perto dos dez mil seguidores passa a ser interessante do ponto de vista comercial. Quer isto dizer que se faz influencing a sério e se recebe por isso, adianta a minha amiga que sabe que eu pasmo sempre com os meandros dos negócios online. Portanto, os comentários, digamos, esquisitos e que atiçam a curiosidade servem para engordar um potencial porco que, bem vistas as coisas, pode ser apenas uma pessoa que quer muito ser uma influencer. Que raio é uma influencer, pergunta a minha avó ou a vossa tia? Pois. É alguém que influencia os outros no sentido de consumirem a marca A ou a marca B. Mas, atenção, a minha amiga continua, porque pode ser para rechear uma conta de uma marca ou de um determinado projecto, não precisa de ser uma pessoa.

O que isto significa, cá para mim, é que estamos rodeados de falsidade. Fake news, e não só. Esta fórmula de engordar o porco ou peru, visto que estamos perto do Natal, é apenas mais um exemplo de como somos enganados olimpicamente e nem temos noção. Eu não tinha. Não cliquei em nenhum dos comentários que me pareceram estranhos, contudo tenho a certeza de que muitas pessoas o fizeram. Por curiosidade. Por ingenuidade. E é nesta ideia simples de que os nossos gestos não têm qualquer importância que o mundo vai andando, as marcas vão controlando e atiçando os nossos espíritos e somos, como se diz no documentário The Social Dilemma disponível na Netflix, carne para canhão ou, se preferirem algo mais gentil, somos produtos.

Muitas pessoas que viram o documentário, cuja duração é pouco mais de uma hora, ficaram na mesma. Dizem-me que já sabiam tudo aquilo, que a adição às redes sociais é inevitável e é cultivada ao minuto por forças poderosas que, afinal, são marcas. Desliguei as minhas notificações, estabeleci um horário para estar nas redes sociais, optei por desligar o telemóvel ao final da tarde. Não me levem a mal, eu que nasci em 1970, preciso de ter a ideia de que controlo a minha existência. Eu tenho essa liberdade. Outros também a terão e preferem abdicar dela? Pois, é a vida ao vivo e a cores no século XXI.

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