Não há nada para conversar, cada um fica em sua casa. Quando o meu avô era vivo, o Natal era outra coisa e toda uma outra conversa. Eu sempre maldisse a época, a necessidade das prendas, a coisa de se ser bonzinho e sorrir, sorrir e acenar. Depois o meu avô morreu. E veio à tona toda uma série de coisas que separam pessoas e afins. Uma série de pessoas da família nunca mais se sentou à mesma mesa no dia 24.

Eu faço um esforço para tornar a consoada uma coisa animada, mas terei de confessar que o sucesso se deve, mesmo que relativo, ao meu filho mais novo, que tem um dos nomes do meu avô e talvez um pouco da sua alma. Bem-disposto, o meu filho mais novo é uma alegria com pernas e o irmão alinha e há uma certa alegria que se instala entre comida e prendas, histórias cruzadas e, tantas vezes, repetidas. Habitualmente, damos livros. Livros pensados para cada pessoa, na expectativa de acertar no gosto e sensibilidade de cada um, fazendo figas para que não seja um livro que já possuem. Este ano não será excepção, os livros estão ali a alindar a árvore de Natal e sei que não existirá qualquer desilusão.

À mesa seremos cinco, não recordando o belo poema de José Luís Peixoto, mas antes por imposição pragmática que deriva desta pandemia que nos assaltou as vidas. Não terei os meus pais, a minha avó que, do alto dos seus 87 anos, não percebe nada do que se está a passar e, na verdade, é apenas mais verdadeira do que os restantes porque ninguém percebe nada disto, do que nos aconteceu. Apesar disso, a mesa será posta com o cuidado habitual, as iguarias serão as mesmas, as conversas talvez acabem por ser mais pobres. No dia 25 não teremos os amigos e a família lógica ou outra parte da família biológica. Mas temos um plano. Vamos ver em conjunto o filme Do Céu Caiu Uma Estrela (It’s a Wonderful Life no original, confesso que por uma vez a tradução me parece mais feliz), para que possamos apreciar a vida que temos, mesmo esta vida condicionada. Para nos recordar que as coisas simples são as melhores e que o facto de o amor ser real e palpável é a melhor bênção de todas

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