Quinta-feira foi um dia bonito. Foi o Thanksgiving nos Estados Unidos, Dia de Acção de Graças em Portugal. Como é próprio dos EUA, com eles é tudo à grande, seja que evento for, trate-se da ocasião que se tratar. O maior exemplo disso é terem eleito o Trump. Ah está a haver um concurso mundial para ver quem tem o Presidente mais ignóbil? Então espera que já vos mostramos, ó mundo! Com o Thanksgiving, passa-se o mesmo. Grandes comemorações, grandes perus, grandes alegrias.

Já nós, aqui, gostamos de algo mais comezinho. Como é que tanta gente celebrou este dia? Com a recepção de o e-mail da Segurança Social com a actualização dos escalões. Foi como ter o Natal um mês mais cedo, mas quando vais a abrir a prenda que é a maior e que vai dar mais alegria, acabas sugado num buraco negro de tristeza e aflição sem saber como é que vais pagar aquilo. Isto apenas para os pessimistas, claro. Não é o meu caso.

Pessoalmente, posso confessar-vos que abri o e-mail e os meus olhos encheram-se de lágrimas. Com umas pequenas contas de cabeça, percebi que 55% do meu rendimento vai para o Estado todos os meses. Portanto, já perceberam que as lágrimas que me escorriam pelo rosto lentamente – ao mesmo ritmo que a minha qualidade de vida piora por mais que trabalhe – eram tanto de felicidade como de tristeza. Felicidade porque estou a contribuir com cinquenta e cinco – CINQUENTA E CINCO – por cento do meu rendimento directamente para o Estado que, enquanto trabalhador independente, não me garante subsídio nenhum, nem de férias, nem de desesemprego, nada. E vamos lá ver se sobra uma pensãozinha de 25 euros quando eu aos 97 já não conseguir mesmo trabalhar. Por outro lado, tristeza, porque acho pouco. É que depois de todos os impostos, da renda e das contas, ainda me sobra dinheiro para comer quase todos os dias. Como é que faço para dar mais dinheiro para o Estado? Alguém me pode ajudar? É que é completamente desnecessário estar a gastar dinheiro a comer quase todos os dias, quando eu ficava bem se enfiasse no bucho uma sandes de nada e um pastel de coisa nenuma todos os domingos. Dava-me bem para a semana.

De qualquer forma, isto de escalar escalões é bem divertido. Para já, enquanto trabalhador independente, os meus direitos profissionais são pouco mais do que os de um vendedor de droga e são bastante menos do que os de um desempregado. Depois, enquanto comediante, tenho de estar sempre, sempre, à procura de novos trabalhos, de novas criações, sempre com a nuvem das contas por pagar a pairar em cima da cabeça, já a afundar-se pelo menos até às têmporas. E eu até tento fazer por isso. O que é que resultou? Que o meu aumento de rendimento mensal no último ano aumentou para aí 100 euros (uau!), mas sou tão bom a escalar escalões que a Segurança Social achou por bem que eu devia passar a pagar mais 75 euros do que já pagava. Ficam 25 euros para ir comprar uma guloseima, muito obrigado!

Vale a pena trabalhar assim.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Jim and Andy:  Incrível documentário sobre o que foi o Jim Carrey enquanto Andy Kaufman em Man on the Moon. Netflix.

- Até Que As Pedras Se Tornem Mais Leves Que A Água: Novo romance do génio Lobo Antunes. Vou começar a ler agora, mas já o recomendo com toda a confiança. É o Lobo Antunes, por amor de um deus qualquer!