1. Pedro Sánchez é o grande ganhador da jornada. Viu premiada a condução do governo de Espanha nos últimos 10 meses. No verão passado, o PSOE estava em quarto lugar nas sondagens, com 18% das intenções de voto, lutando com o Podemos pelo terceiro lugar no pódio. Agora, dez meses depois, o PSOE cresce dez pontos percentuais e impõe-se, muito destacado, como primeiro partido de Espanha. Vai voltar-se para a esquerda mas, a prazo, pode ser tentado a explorar compromissos com o centro-direita – cenário, todavia, muito pouco provável, talvez não mais do que um argumento nas negociações políticas.

2. A governabilidade em Espanha fica dependente de um labirinto de compromissos. As esquerdas têm essa possibilidade ao alcance, mediante negociações com os nacionalistas bascos e os independentistas catalães. As direitas, com apenas 149 deputados (66 do PP, 57 do Ciudadanos, 24 do Vox e dois da coligação de Navarra) estão longe dos 176 que valem maioria no parlamento e não têm parceiros com quem possam explorar entendimentos.

3. A formação do próximo governo de Espanha vai certamente passar por negociações complexas e demoradas. Pablo Iglesias vai reclamar a Pedro Sánchez a vice-presidência do governo e a chamada de figuras do Podemos para postos ministeriais. Sánchez vai tentar governar em solitário, embora com independentes na área do Podemos.

4. Oriol Junqueras, líder da Esquerra Republicana da Catalunha (ERC), está na cadeia e a ser julgado pela controversa acusação de rebelião independentista violenta, mas é um dos ganhadores nestas eleições: o pragmatismo da sua liderança, apesar de bloqueado na prisão, é recompensado com a subida de 9 para 15 deputados. A Esquerra Republicana impõe-se como o primeiro partido da Catalunha e vai dialogar com o governo de Pedro Sánchez. O PSOE recusa o referendo sobre a independência da Catalunha reclamado pela ERC, mas é de esperar o avanço da autonomia. A questão catalã vai continuar no centro da vida política espanhola.

5. Albert Rivera, líder do Ciudadanos, há um ano julgava-se à beira de chegar à chefia do governo de Espanha, rendendo o muito desgastado PP de Rajoy. A ocasião acabou por servir o socialista Sánchez. Rivera, sempre aguerrido, impetuoso, dispara agora de 32 para 57 deputados. Não conseguiu consumar para o Ciudadanos a aspiração de ultrapassar o PP, mas com 4.136.000 votos ficou a 220 mil eleitores e 9 deputados de o conseguir. Rivera é a figura emergente na metade direita do leque político espanhol. Há muito é visto como um protagonista do futuro. Falta que o concretize. O desvio que fez, na campanha para estas eleições, do centro para a direita, pode não ter sido a melhor opção. Deixou muito centro moderado para o PSOE de Sánchez.

6. Vox, com o discurso ultraespanholista de reconquista, consegue um êxito retumbante: entra no parlamento de Espanha com 24 deputados e 2.700.000 votos. Mas, porque a fasquia das expectativas tinha sido colocada muito alto (as sondagens chegaram a sugerir 40 deputados) há um lado amargo nesta forte conquista. Está para se ver que consequências vai ter o facto de o Vox ter dinamitado a direita espanhola, provocando o colapso do PP e entregando o governo ao socialista Pedro Sánchez.

7. Pablo Iglesias, líder do Podemos, é, ao mesmo tempo, um perdedor e um ganhador nestas eleições. Perdeu milhão e meio de votos e 29 deputados e não conseguiu a aspiração de ultrapassar o PSOE. Mas resiste bem às tensões internas e à baixa prevista nas sondagens. Fica aliado preferencial dos socialistas e chave para as soluções políticas do futuro próximo com um governo preogressista.

8. Pablo Casado quis liderar o PP radicalizando-o à direita, talvez porque julgava que a boa opção era a de tentar ocupar o espaço que Vox procurava preencher. Foi um desastre. O PP, com Rajoy, teve 7.941.231 votos nas eleições anteriores, em 2016. Agora, com Casado não chega aos quatro milhões e meio de votos e perde mais de metade dos deputados, ao cair de 137 para apenas 66 deputados. Casado fica na corda bamba até às eleições europeias, autonómicas e municipais já dentro de um mês. É difícil que possa continuar na liderança. É provável que na direita espanhola haja movimentações para futuro entendimento eleitoral entre o PP e o Vox. Casado tentou agora essa união para conter a perda de deputados com a dispersão do voto. Vox não aceitou e assim ditou a derrota do PP e deixou abertas para o PSOE as portas da vitória.

9. Estas eleições reforçam a noção de que a Espanha é um país com várias nações lá dentro: os nacionalistas são principal força no País Basco; os independentistas são primeiro partido na Catalunha. Os partidos nacionalistas e independentistas, com 33 deputados no total, superam o número de deputados conseguidos pelo espanholismo do Vox: 15 da ERC, 7 de JxCat, 6 do PNV, 4 do EH Bildu e um do Compromis. O medo das direitas fez mobilizar, de modo maciço, o eleitorado que pretende um outro modelo de Estado.

10. Resulta evidente que o tom moderado e conciliador, de Sánchez, de Iglesias e de Junqueras foi premiado pelos eleitores que, ao mesmo tempo, castigaram a estridente agressividade de Casado, Rivera e Abascal.

11. Resolvidas as eleições gerais, há um novo round eleitoral em Espanha já daqui a quatro semanas: eleições europeias, autonómicas e municipais. O quadro está muito aberto, sendo que a soma das direitas superou, nas eleições deste domingo, a soma das esquerdas em algumas das principais cidades de Espanha: em Madrid, o triunvirato PP, Ciudadanos e Vox somou 52%, enquanto PSOE+Podemos ficam longe, com 43% - mas o PSOE apareceu agora, pela primeira vez em 33 anos, como o partido mais votado na capital espanhola, destronando o PP, que até foi ultrapassado pelo Ciudadanos; em Zaragoza, agora governada à esquerda, as três direitas somaram 51,3%; em Sevilha, tudo muito renhido, 49% para as esquerdas, 47% para as direitas; em Valencia, ligeiríssima vantagem das direitas (48,3/47,5). Em Barcelona, tendência para conquista do governo da cidade pela ERC.

12. Uma outra constatação destas eleições de 28 de abril em Espanha: o país político está dividido em dois blocos, um puxado para as esquerdas e outro puxado para as direitas. Deixaram o centro meio vazio. Será o terreno para o combate de argumentos em próximas eleições. Desta vez, os cidadãos mobilizaram-se e 75% do eleitorado votou.

Quadro de resultados oficiais.