A FIFA aconselhou os canais de televisão para que deixassem de focar raparigas que possam ser consideradas atraentes durante as transmissões televisivas dos jogos do Mundial de Futebol 2018. Por outras palavras, a FIFA pede para que filmem só as feias e gordas. É irónica esta preocupação da FIFA com o sexismo, visto que não tem qualquer tipo de problema em escolher como organizadores dos seus maiores eventos países que têm no seu cadastro uma série de crimes de discriminação, seja contra mulheres, homossexuais, negros ou outro grupo de pessoas. Quando a Arábia Saudita acolher um torneio de futebol não haverá este problema, já que as mulheres serão obrigadas a usar burkas nos estádios, tornando impossível perceber se são atraentes ou não, a não ser em casos de estrabismo. Ser estrábico deve ser mau, mas num país em que tens de usar burka deve ser ainda pior. Pensem nisso quando acharem que a vossa vida vos está a correr mal.

Ora bem, focar a realização em mulheres atraentes é sexismo? Talvez. É assim tão mau apreciar-se mulheres pela sua beleza exterior? Não me parece, apenas as feias acharão isso de mau tom. As mulheres não partilham fotografias dos jogadores de futebol, exaltando as suas qualidades físicas e não futebolísticas? Será isso também uma forma de sexismo? Claro que não, a discriminação só tem um sentido que cuja origem é sempre o homem branco heterossexual, todos sabemos. É mais sexista um realizador focar o decote de uma jovem que foi vestida para o estádio a ver se conseguia fama – como aconteceu com a Larissa Riquelme, aficionada do Paraguai sempre encalorada e que guardava o telemóvel numa espécie de bolsa marsupial no meio dos seios – ou é mais sexista uma mulher que nem sabe o que é um fora-de-jogo ver uma partida de futebol só para apreciar as pernas do Ronaldo? Não sei a resposta, estou só a fazer perguntas.

Falando na Larissa, são várias as mulheres que ficaram conhecidas por irem ao estádio e terem a atenção das lentes, algumas tornaram-se modelos e conseguiram contratos com marcas. Esta luta desmesurada em prol de uma suposta igualdade está a tirar trabalho e independência a estas mulheres. É tudo muito confuso. É feminista quem quer acabar com as meninas que entregam medalhas na volta à França ou é feminista quem acha que as mulheres podem ter trabalhos em que apenas usam o corpo e a imagem para ganhar dinheiro? Não sei a resposta, estou só a fazer perguntas.

Perceberia esta luta da FIFA se as mulheres em causa, que foram destacadas na realização, se tivessem queixado. Claro que as mulheres se podem vestir como quiserem sem se preocuparem em serem objetificadas, não é isso que está em causa, mas estaremos a mentir se dissermos que todos nós, homens e mulheres, não gostamos de ser objectifiados de vez em quando e apreciados pelos nossos atributos físicos. Em breve, as modelos não poderão ser atraentes. Nas transmissões dos desfiles da Victoria Secret é aconselhável que apenas filmem as invejosas feias que estão na assistência e não as modelos. O mundo vive das aparências e a culpa é de todos, é lidar com isso em vez de sermos hipócritas e acharmos que isto vai mudar alguma coisa.

O grande problema é que com estas novas guidelines, sempre que aparecer uma mulher na imagem, podemos assumir que o realizador achou que ela não era atraente o suficiente e que, por isso, poderia ser filmada. Algo que era um elogio e que podia subir o ego, é agora, potencialmente, devastador. Se partimos do princípio que todas as mulheres filmadas apenas o foram devido ao seu nível de beleza, pode o realizador focar crianças do sexo feminino ou isso poderá ser considerado pedofilia? E as minorias? É preciso haver quotas? Tem o realizador de andar à procura de um branco vestido com a camisola da Nigéria ou de um negro vestido com a camisola da Suécia? É tudo muito confuso. Atenção que não digo que focar a câmara nas mulheres bonitas não possa ser considerado sexismo, mas não é com este tipo de conselhos que o sexismo diminui no mundo, especialmente quando temos um mundial feito na Rússia, país que no ano passado aprovou uma lei que descriminaliza alguns atos de violência doméstica, onde passam a ser considerados crime, apenas se existirem ferimentos graves, que obriguem vítima a ir ao hospital ou a faltar ao trabalho. A FIFA e as preocupações hipócritas a que sempre nos habituou; proibir países que praticam crimes de ódio e que discriminam grupos de pessoas de participar ou acolher os eventos da FIFA é que talvez mudasse alguma coisa, mas depois perdia-se dinheiro e coisa e era chato.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Um artista: Bordalo II

Um filme: Primer

Uma praia: Praia da Ursa em Sintra.