Tive a oportunidade de entrevistar, em exclusivo, o coronavírus. Aqui fica a conversa sincera e honesta que tive com ele, onde falámos do seu passado, da sua vida pessoal, dos seus objectivos e planos para o futuro.
GD: Boa tarde, antes de mais, coronavírus, corona ou COVID-19?
COVID: Prefiro COVID-19, sinceramente. Referem-se muito a mim como “o novo coronavírus” e eu detesto comparações com os meus antecessores. Quero ter a minha identidade e apesar de o SARS e o MERS serem uma grande influência para mim, gostaria de deixar a minha marca e de ter a minha voz no mundo das grandes epidemias.
GD: Comecemos então por aí. Quando é que decidiu que queria ser um vírus epidémico?
COVID: Bom, sei que parece cliché, mas foi tudo um bocado por acaso. Nunca fez parte dos meus planos infectar humanos, nunca foi isso que queria ser quando fosse grande.
GD: Muito interessante o que nos conta, COVID-19, mas então diga-nos, como é que tudo aconteceu?
COVID: Foi mesmo por acaso. Acham que eu queria infectar humanos? Alguma vez? Ter um humano como hospedeiro? Tenham juízo, eu andava todo contente a infectar morcegos e pangolins, sem ninguém se meter na minha vida.
GD: Então e o que o levou a infectar humanos?
COVID: Então… metem-se a comer morcegos e cobras…!? Mas anda tudo parvo ou quê!? Eu não tenho controlo absoluto sobre todas as minhas mutações, sou muito impulsivo e lá acabei por infectar humanos.
GD: Muito bem e como está a correr a experiência?
COVID: Não vou dizer que não estou a gostar, estou a aprender imenso, mas os humanos são muito chatos, fazem um alarido só por causa de uma infeçãozita pulmonar, umas mortes de velhos e pessoal acamado. Por exemplo, você já viu um morcego com sintomas de constipação?
GD: Não.
COVID: Pois não, porque nunca se queixam. Estão com febre e dores de cabeça e tosse, mas aguentam porque são rijos. Agora os humanos, especialmente os machos, não há paciência. Só eu sei o que passo sempre que infecto um homem, tenho de o aturar a queixar-se que lhe dói tudo, feito mariquinhas, a minha vontade é logo matar o hospedeiro só para ele se calar. Tenho-me controlado bastante para estar nos 2% de mortalidade.
GD: Era isso que lhe ia perguntar, se faz parte da sua estratégia de crescimento manter-se nesse rácio de mortalidade ou tem outros planos para o futuro?
COVID: A ideia é baixar, até. Os meus antecessores foram burros e não tinham visão de longo prazo. Foram logo garganeiros com taxas de mortalidade de 10% a 40% e lixaram-se logo. Temos de ser espertos, quanto menos mortais, mais nos espalhamos e menos atenção chamamos. Depois, quando tivermos distribuição global, a chamada pandemia, logo vemos e redefinimos os objectivos se for caso disso, o chamado pivoting.
GD: Vejo que não nos quer revelar muito, mas eu sei, até porque foi uma fonte próxima do casal que me informou, que o caríssimo COVID-19 tem sido alvo de pressões externas para se tornar em pandemia, como referiu, mas também para aumentar a sua mortalidade.
COVID: Não vou dizer que não estou a receber pressões de vários lados para matar o máximo de humanos possíveis. Há uma grande pressão para me transformar em pandemia, não vou mentir, mas ainda nada em concreto.
GD: E pode dizer-nos quem tem feito essa pressão?
COVID: É uma pressão de vários lados, mas em particular de Deus. Deus tem-me apoiado imenso e feito lobbying para que eu mate grande parte da população mundial a ver se o planeta terra ainda tem algum tipo de salvação. Ele queria evitar asteróides e cheias desta vez, até porque sai muito caro e causa muito estrago ao nível da decoração da Terra.
GD: Então admite que está a ser instrumentalizado para fins de controlo de população?
COVID: Não confirmo nem desminto, mas repare que, desde que eu infectei humanos, só na China já os obriguei a reduzir as emissões de CO2 em mais de 25%, porque tiverem de parar fábricas e indústrias inteiras para me conter. Disso ninguém fala, só falam dos mortos para me dar má fama, mas das coisas boas estão caladinhos que nem ratos na China, com medo de serem comidos.
GD: 25%? Isso é realmente incrível!
COVID: É verdade! Chupa, Greta! É assim que se reduz a poluição e o aquecimento global. Não é com greves às aulas, é a trabalhar no duro como eu, a infectar e a matar pessoas.
GD: E, diga-me, COVID-19, tem receio que os humanos criem uma vacina que lhe estrague os planos?
COVID: Sinceramente, não. Porque haverá sempre os maluquinhos contra as vacinas que podem ser os meus hospedeiros e, parecendo que não, se eu só matar esses até é uma boa triagem da humanidade, eliminando grande parte dos menos aptos intelectualmente. Se calhar até ficamos todos a ganhar.
Foi esta a entrevista ao COVID-19, até ao próximo programa, onde entrevistarei outra grande epidemia viral, esta mais grave, falo do vírus que provoca a audição de música sem auscultadores nos transportes públicos. Um flagelo mundial. Adeus e obrigado.
Para ir: Espectáculo de stand-up comedy, em Águeda, dia 7 de Março. Bilhetes aqui.
Para ver: Viver duas vezes, na Netflix.
Para ouvir: Podcast Prisão Preventiva, de Tiago Almeida.
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