Estes meses de pandemia instalaram a Covid como tema praticamente único nas notícias, daí resultou que a sensibilização para a urgência de mudarmos hábitos e a necessidade de pressionar os políticos para que avance depressa a transição energética e a promoção de modos de vida mais harmoniosos com a natureza e o clima, perdeu o destaque que crescia no espaço público.

Greta não se resignou e impulsionou nestes dias uma carta aberta aos dirigentes que influenciam o curso do mundo a requerer que tratem a questão do sobreaquecimento global com a mesma prioridade, empenho e urgência que estão a dedicar ao combate à pandemia. A carta tem como primeiras subscritoras quatro jovens ativistas, com idades entre os 17 e os 24 anos e também tem a assinatura de cientistas, gente do espetáculo, músicos e outros ofícios com poder como influencer. Estão personagens como Leonardo di Caprio, ativista e financiador, há mais de 20 anos, das causas ambientais, o “Joker” Joaquin Phoenix, a Nobel da Paz Malala Yousafzal, a cantora Billie Eilish e muito mais gente, de Emma Thompson a Russell Crowe, de Bjork aos Coldplay, de Roger Waters a Stella McCartney. O combate pelo clima está relançado.

Muito bem decidiu o júri presidido por Jorge Sampaio, que escolheu Greta, entre 136 selecionados de 46 países, para primeira premiada com o Gulbenkian Prize for Humanity, dedicado, com o expressivo montante de um milhão de euros, a pessoas ou grupos que contribuem para mitigar os efeitos das alterações climáticas e o impacto do homem sobre o ambiente. A notícia deste prémio teve destaque global. O vídeo de agradecimento publicado por Greta teve 950 mil visionamentos nas primeiras quatro horas. Greta anunciou que dedica todo o dinheiro do prémio a populações mais atingidas pela crise climática. Uma primeira fatia dessa doação vai para povos indígenas da Amazónia.

Há quem discuta mais a idade, a escolaridade, o autismo ou as atitudes de Greta do que o que ela diz. Há muita gente para quem esta adolescente Thunberg é persona non (greta)grata.

O que é que a idade tem a ver com a valorização ou não do que ela diz?

O que é que leva a que alguns classifiquem o que ela protesta com fervor como ingenuidade?

Provavelmente, para os detratores de Greta, a idade é apenas um pretexto para contestar a liberdade que ela usa para dizer o que entende ser necessário dizer.

O principal motivo para a hostilidade a Greta estará no modo simples e obstinado como age, com aquela cara redonda que parece sempre enfadada, a reclamar, em modo dramático, urgência na ação.  Ela sabe explorar o circo que montam em volta dela. Ela atira-nos à cara, sem rodeios, a nossa responsabilidade.

O que nos diz Greta Thunberg é que vivemos dentro de um sistema económico depredador, que envenena o planeta, que deixa abandonados na margem tantos seres humanos, e que ameaça dar cabo do mundo

Nós intuímos que essa é a realidade, mas evitamos olhá-la de frente com a inquietação devida.

Felizmente, a rebeldia e a franqueza de Greta ecoa poderosa nas novas gerações e é acarinhada por pessoas como o Papa ou o secretário-geral da ONU e por cada vez mais dirigentes políticos e do mundo das empresas.

Ela sabe como tornar fácil de entender o que tantos cientistas dizem de modo que resulta complicado. Greta é um catalizador necessário da ação climática.

A ter em conta: