Radicalismo é um estado de espírito e posicionamento na vida que me aflige. O mesmo é válido para preconceitos. Faço por derrubá-los, por entender as minhas relutâncias e combater ideias que estão enraizadas em cultura, educação, fé. Para mim, o mais importante da vida são os outros e o que a sua riqueza acrescenta à minha vida. Não sou boazinha, atenção, mas não julgo com rapidez, não entro em movimentos coletivos de acusação. Dito isto, sou uma fervorosa defensora dos Jogos Olímpicos e tenho uma admiração sem fim pelos atletas. Todos os atletas.
O que aconteceu em Paris entre a atleta italiana Angela Carini e a atleta argelina Imane Khelif cheira-me tão a esturro que, admito, fico transtornada com tanto comentário fundamentalista ou radical, com tanta transfobia, com tanta ignorância e treinadores de bancada cuja sapiência deixa tudo a desejar. Imane Khelif é uma mulher, nasceu mulher, sente-se mulher. Não é loira e magra? Não entra nos padrões de beleza convencional? Temos pena, mas é uma mulher. A italiana sabia ao que ia, já tinham treinado juntas, não era o seu primeiro encontro.
O que aconteceu? Aconteceu um momento de bullying e uma medida estranha que ninguém parece questionar: a atleta italiana receberá da Federação Internacional de Boxe um prémio monetário igual a um prémio atribuído a um vencedor olímpico, logo a sua federação recebe uma parte, como é habitual. Por que carga de água? Pois.
O nível da manobra de bastidores talvez seja de excelência e eu não tenha estudos para isto, mas, de novo, cheira-me a esturro. E o esturro tem um sabor a extrema-direita, a ideias transfóbicas, a instigar medo e exercer bullying só porque se pode. Pena que certas feministas alinhem neste discurso, porque na defesa da mulher vão a um extremo em que deixam de as defender para as atacar. Este mundo do “estás comigo ou contra mim” levar-nos-á para um péssimo caminho.
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