Tempos houve em que aceitaria tudo e faria por harmonizar a situação. Tempos houve em que nem teria a audácia de partilhar qualquer sentimento de perplexidade numa crónica. Poderia optar por escrever sobre o cerco frustrado à sede do Partido Socialista, ou a loucura que será o concerto dos Coldplay ou o facto de se ir gastar, alegadamente, oito milhões em casas de banho, para servir a multidão que vem à Jornada da Juventude (e os selo, senhores, o selo, viram o selo?). 

Sobre tudo isso eu poderia escrever várias crónicas e estar, vá, na atualidade, que dá sempre jeito nestas coisas da comunicação. Mas prefiro escrever sobre o facto de as pessoas não terem empatia, serem mal-educadas, rudes e prepotentes, porque esses comportamentos levam a outros que têm consequências graves na nossa vida, que minam a sociedade. Prefiro escrever sobre isto, numa época em que ainda não temos estudado todo o impacto que a pandemia teve sobre a humanidade. 

Sinto que ficámos piores. As pessoas estão zangadas, numa toada de egoísmo e de individualismo que mete medo. E sem qualquer necessidade disso, pelo menos no dia-a-dia. Se se passarem da cabeça por termos fascistas no Parlamento, contra o que está escrito na Constituição portuguesa, aí já acho naturalíssimo, por favor, passem-se à vontade. Mas passarem-se só porque podem? A sério? Quem paga, manda; quem paga, exige. 

O mercado de trabalho está um lugar cada vez mais feio. É preciso recolher para uma bolha, e a maioria dos portugueses não pode fazê-lo. Vive com este tipo de comportamento de pessoas que são hierarquicamente superiores. A grande vantagem da minha vida é ser freelancer, portanto não há hierarquia, não sou súbdita de nenhuma alma. É a minha sorte e o meu azar. Os portugueses que são maltratados, de forma prepotente, pelos seus chefes diretos, patrões e associados, como podem reagir? Acatam, como eu já fiz tantas vezes, porque isto não é fácil e, para mais, é difícil. 

Custa-me que as pessoas não entendam como podem interagir de modo positivo. Não promovem a gratidão, nem o reconhecimento, e escudam-se em jogos de poder que, estou segura disso, irão perder, mais tarde ou mais cedo. Isto sim, deve ser da idade. 

Vivemos num país sem memória nem gratidão, e o que ensinamos aos mais novos não serve para melhorar nada, porque estamos a sufocar de tanta frustração e injustiça. A criatura com a qual tive de cruzar caminhos está agora distante e, se tudo correr de feição, nunca mais trocaremos uma palavra. Isto é como quem diz: estou safa. Outros virão depois de mim e tenho pena deles antecipadamente. A má-criação impera. A falta de respeito idem