Levar a filha para o trabalho não é prática incomum. Especialmente nos meses de verão, em que a alternativa é deixar as crianças em casa a jogar Fortnite ou num odioso campo de férias com atividades demasiado divertidas. Ivanka Trump já teve de levar frequentemente com a seca que é ir passar o dia no trabalho do pai, durante os últimos dois anos e meio. Como qualquer criança com o progenitor, muitas vergonhas terá passado. Agora, mais crescida, é ela quem embaraça (ou enche de orgulho) a família.

Um vídeo divulgado pelo governo francês mostra uma conversa entre Emmanuel Macron, Theresa May e Christine Lagarde, na qual Ivanka Trump tenta participar, perante os olhares exasperados da Presidente do FMI. A conversa aconteceu na conferência do G20 e versava sobre, pelo que se consegue ouvir no breve trecho divulgado, “justiça social”. Macron introduz o assunto, May sugere que o argumento económico é mais fortes do que qualquer outro no que toca a sensibilizar as pessoas para a matéria e Ivanka enuncia algo como “é como na Defesa, é um ambiente muito dominado por homens”. Lagarde encolhe-se de embaraço.

Ivanka Trump parece ter algumas frases decoradas para dizer, sem qualquer relação com o assunto que se está a falar. Ali, é um jovem tímido, numa festa em que não conhece ninguém, a elencar factos sobre esquimós, para encher o silêncio numa conversa sobre futebol sul-americano. Na linguagem corporal, é assustadoramente semelhante a um robot. É possível, doravante, que a grande diplomacia seja feita deste modo. Se dissermos coisas absolutamente descontextualizadas, guerras serão evitadas.

Não é surpreendente nem inusitado que os Trump causem desconforto extremo aos líderes mundiais. O que nos conforta neste vídeo é haver quem não consiga esconder a aversão à bullshit. Christine Lagarde, com o seu snobismo do 9e arrondissement de Paris, não evita a censura a uma bacorada de Ivanka. Só não terá desatado a rir e fechado a rodinha, expulsando Ivanka do grupo, porque, lá está, em princípio FMI desaconselha a eclosão da Terceira Guerra Mundial. Optou pelo mais seguro esgar de desprezo.

Ivanka pode melhorar muito nesta arte do falar sem ter nada para dizer. Basta vir a um almoço de família português para assimilar, na altura em que se começa a falar de política, várias frases chave que nunca a deixarão ficar mal numa troca de ideias que não domina. Desde o “essa é que é essa!”, ao “no fim, eles é que o ganham”. Desde o “aos anos que ando a dizer isso”, ao “isto agora com as internetes muda tudo”. Desde o “não diria melhor!”, ao “disto ninguém fala”. Desde o “isto vai de mal a pior” ao “antigamente era tudo mais genuíno”. Força, Ivanka, quebra o gelo.

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