Bem sei que ainda temos uma final da Champions League e mais de sessenta jogatanas de Mundial pela frente, mas eu já estou aqui a ansiar por Jogos contra o Étoile Carouge, o Sion ou mesmo frente ao Benfica de Lausanne, com adeptos com as camisolas dos três grandes, outros com o equipamento da FPF, outros com o clube da terra, porque querem lá saber do clube em si, exigem é estar perto de símbolos patrícios. Até porque a pré-época é um sucedâneo do futebol pelo qual as pessoas se interessam, não por ser excitante, não por ser bonito, mas por envolver nenhuma preocupação ou ansiedade.

Na pré-época, há esperança para todos, até para a imprensa escrita. Ainda que seja benfiquista, o meu lado saudosista até se sente confortável com o Benfica não-campeão, porque há um ritual de infância que agora regressa. Verão de algures nos anos 2000, 11 da manhã, ir ao quiosque comprar os desportivos. “Jon Dahl Tomasson apontado ao Benfica”; “Robert Pires é hipótese”; “Robinho assina hoje” (suspiro esperançoso). Que saudades de “Maxi Lopez preso por detalhes”. Quão desconfortáveis se sentirão as pessoas que estão presas por detalhes? Uma coisa é ser prisioneiro político, do ventre ou de si mesmo. Ficar preso por minúcias é sempre triste. Aliás, quando dizem que algum jogador está preso por detalhes, em princípio esses pormenores traduzir-se-ão no anular da transferência.

Quem não adora todas aquelas narrativas sobre negócios que não acontecem? “Alfredo interessa”, “Alfredo é hipótese”; “Alfredo negociado hoje”; “Alfredo pode assinar amanhã”; “Cimeira por Alfredo”; “Alfredo gera impasse”; “Negócio Alfredo complica-se”; “Alfredo mais longe”; “Salário pode afastar Alfredo”; “Alfredo não vem, Adolfo é o alvo”. E com isto vendem-se 10 edições em vez de duas (“Este gajo pode vir” / “Este gajo afinal não dá”).

A pré é a época das fontes, das inside infos, dos rumores retirados de contas falsas do Twitter. Desde o pai que é empresário, ao empresário que é pai deles todos, o defeso tem uma linguagem própria. É como se rodasse uma tômbola nas redações com clichés de pré-época, às quais os jornalistas juntariam nomes de jogadores que costumam ir buscar no FM. “(inserir nome) já escolhe casa em Lisboa”; “(inserir nome) inscreveu os filhos no Colégio”; “Pai de (inserir nome) dificulta negócio”; “Luz verde para (inserir nome)”; “(inserir nome) só por empréstimo”; “(inserir nome) com tubarões à perna”.

Contudo, isto não é uma crítica ao estilo, é um elogio. Precisamos dessa catarse e dessa leveza. Precisamos todos de uma pré-época para descansar desta época.

Recomendações

Esta série documental.

Este especial de stand-up.

O meu podcast, Amigo Íntimo.

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