Nunca se falou tanto em liberdade de expressão; nunca houve tanta liberdade de expressão. E nunca a mesma foi tão louvada e, simultaneamente, maltratada. Sob o magnânimo manto da liberdade de expressão diz-se tudo e mais um par de botas. Das verdades mais disruptivas e provocatórias, às mentiras mais escabrosas e alucinadas. Seja nas redes sociais, nos canais de comunicação ou mascarados de artigos de opinião é fácil difundir atoardas e semear a suspeita na mente de milhares de pessoas.

Muitos questionam se a liberdade de expressão tem limites. Terão com certeza os limites estabelecidos por lei. Mas o problema não são esses limites ou ter uma definição mais ou menos lata do que se configura como liberdade de expressão. O principal problema está no receptor. Se é verdade que a sociedade nacional é, actualmente, composta pelas gerações mais bem formadas de sempre, academicamente falando, e com mais acesso à informação e às fontes, não deixa de ser paradoxal que essa mesma sociedade pareça a menos esclarecida.

Para além disso temos uma enormidade de pessoas que facilmente consomem conteúdos, escritos ou visuais, onde se propalam inverdades. Sabemos que é sempre fácil, e quase imediato, criar uma falácia e lançar uma suspeita. São, de resto, episódios de rastilho curto, que rapidamente alimentam uma discussão acalorada e extremada. Mas essas mesmas pessoas têm pouca ou nenhuma disponibilidade mental para serem devidamente elucidadas. E não será por falta de capacidade mental. É porque preferem alinhar nas teorias conspirativas; embarcam na noção do “eles e nós” – “eles” sempre corruptos; “nós” sempre impolutos e vítimas do sistema…

Voltando ao receptor, que somos todas e todos nós, tentemos ter uma análise crítica da informação e conteúdos que nos avassala diariamente e, provavelmente, os limites da liberdade de expressão deixam de ser um problema. Pois, diga-se o que se disser, teremos sempre a capacidade de separar o trigo do joio.