A situação não se afigura promissora. São muitos os que desconhecem o seu propósito e se limitam a sair da cama, arrastando-se diariamente para cumprir um horário e receber por isso; as organizações nunca estiveram tão preocupadas em motivar equipas desmotivadas, recorrendo a estratégias de motivação e lideres igualmente desmotivadores; para além do dinheiro que serve para cumprir os restantes designíos sociais, não percebemos muito bem o que andamos profissionalmente a fazer. As condições em que o fazemos são, na maior parte dos casos, precárias, um atentado à dignidade humana ou nada gratificantes. Acabamos cansados e infelizes, sem qualquer satisfação em relação ao trabalho e à vida, no geral.

O desenvolvimento da técnica e da tecnologia, tornou-nos escravos da sua volatilidade e rapidez. Irá, a curto prazo, tornar-nos obsoletos, substituíndo-nos não apenas nas tarefas mecânicas e rotineiras, mas nas mais variadas funções, aniquilando muitas profissões e postos de trabalho. Nas antevisões da literatura e do cinema o mundo estaria, por esta altura, a colapsar: alterações climáticas, pressão urbana e incúria humana, associada ao desenvolvimento da inteligência artificial das máquinas conduziram, em muitos livros e filmes, a distopias futuristas baseadas nessa ausência de recursos que levam, inevitavelmente, à guerra e ao caos social. Não estamos a caminhar (ainda) no sentido de um pós-apocalíptico Mad Max mas, se acontecer, não teremos, seguramente, um Mel Gibson vingador para repor a ordem.

Os sinais estão por todo o lado e continuamos a agir, ignorando-os.

Empregos e locais de trabalho pouco adaptados às necessidades humanas, altamente exigentes, sem remuneração equivalente, numa ergonomia do espaço igual ao desencaixe das relações humanas que, tantas vezes se estabelecem entre as diferentes hierarquias. Líderes porque sim, sem carisma ou reconhecimento. Limitamo-nos ao cumprimento de funções sem esperança na meritocracia porque, afinal, são muitas as organizações com empregos cabide, aqueles que só servem para pendurar alguém. Ainda assim, mantemos a ilusão acreditando no poder das palavras trabalho, esforço e dedicação, mesmo que nunca seja suficiente.

Regressamos todos os dias a casas apertadas em bairros sem vida, longe de tudo e de todos. Usamos o micro-ondas para aquecer uma refeição pré-preparada que comemos sem sentir o verdadeiro sabor, sentados de frente para uma televisão que nos anestesia até adormecermos para acordarmos, poucas horas depois, repetindo o processo. É fácil compreender o aumento da incidência de cancro e doenças metabólicas, a obesidade e depressão. O stress é considerado uma epidemia. Multiplicam-se os casos de burn out.

E, por isto, não consigo deixar de pensar: porquê? Quem nos incutiu a ideia de que se estudássemos muito e trabalhássemos ainda mais, conseguiríamos uma vida melhor? O que há de melhor, na vida, se não o tempo para podermos pensar e respirar em liberdade? Quando foi que passámos a acreditar que teríamos de trabalhar muito para poder comprar as coisas que nos fariam felizes, mesmo que, depois, não tenhamos como delas usufruir. Continuamos a trabalhar (muito), para podermos ter outras, porque aquelas que entretanto conquistámos já não chegam. Li, há tempos, que a verdadeira riqueza é precisar de muito pouco e que passamos a maior parte da nossa vida tentando conquistar esse prazer incomensurável que é o de desfrutar a vida sem contudo, a conseguirmos viver.

Não é à toa que os sites de redes sociais estão inundados com mensagens e pregões motivacionais, supostamente inspiradores, ou que a máxima de Confúcio (faz o que gostas e não trabalharás um dia) se repete à exaustão. Estamos cansados e perdidos, entre o suposto, a nossa intuição, o que nos dizem para fazer e a ideia de sucesso que nos repetem constantemente. A solução está em cada um de nós e não tem resposta certa mas passa, sobretudo, por sermos capazes de desacelerar e escutar o que temos para nos dizer, essa voz que abafamos todos os dias, incrédulos com o que tem para nos contar. Posto isto, já pensaram no vosso plano B pós-apocalíptico?

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