Não sabemos se o voto vai ser mais esclarecido ou mesmo se alguém mudará de ideias em função de um debate.

O que a maratona tem feito é dar aos “outsiders” os cinco minutos de fama a que aspiraram quando legitimamente se candidataram e confirmar os posicionamentos que conhecíamos a cada candidato. Ou, no caso de Marcelo Rebelo de Sousa, os vários posicionamentos que lhe vamos conhecendo sobre o mesmo tema.

Há meses, quando Marcelo apresentou a candidatura e apareceu favoritíssimo nas sondagens, alguém disse ou escreveu - e esse alguém que me perdoe a falta de memória que me impede de atribuir o devido crédito - que para o candidato o melhor era que as eleições se realizassem logo ali, bem depressa, porque a partir daí estaria sempre a perder até ao dia do voto. E que quanto mais falasse, mais perderia. E quanto mais longa fosse a campanha mais desceria nas intenções de voto. Faz todo o sentido que assim seja.

A posição de professor, de conselheiro e de explicador, que tanto comentava a crise no Médio Oriente como o último jogo do Braga, tudo de forma naturalmente inconsequente para além de irritar os que criticava e deixar satisfeitos aqueles que elogiava, era uma posição cómoda e popular.

Mas isso acabou no dia do anúncio da candidatura. Daí fica a imensa popularidade e notoriedade, fica o à vontade com que se movimenta em todos os ambientes, dos que apreciam “foie gras” aos que preferem iscas de fígado.

Mas fica também outra coisa: um imenso registo documental em que o professor aparece a comentar tudo e mais alguma coisa, a tomar posição, a distribuir elogios e a sublinhar críticas sobre qualquer assunto que tenha marcado a vida do país na última década e meia. Dos importantes aos irrelevantes.

Não admira que com tantas horas de vídeo público que está por aí, Marcelo comece agora a ser confrontado com o que disse no passado, que pode não bater certo com o que defende agora.

É que o comentador que tinha opinião sobre tudo transformou-se entretanto no candidato que, tacticamente, prefere não ter posição sobre nada. Marcelo não quer comprometer-se. Nem com a direita nem com a esquerda. Com os capitalistas ou com os proletários. Não tem opinião sobre a austeridade nem sobre o despesismo.

Repare-se no que disse esta terça-feira: “Não sou o candidato da direita”, e apresentou-se como um candidato “heterodoxo e independente”; e sobre a possibilidade de o Novo Banco se tornar num banco do Estado: sim, se as condições de venda não forem positivas.

Haverá maior descomprometimento do que isto?

A polémica com Marisa Matias acerca da crítica ao chumbo do Tribunal Constitucional aos cortes nos subsídios de férias e Natal dos funcionários públicos e pensionistas previstos no Orçamento do Estado de 2012 é um exemplo disso mesmo. E é lapidar a reacção do candidato: não quer polémicas. Obviamente. Uma campanha eleitoral lá é momento para levantar polémicas?

Este desencontro entre o passado e o presente vai certamente repetir-se nas próximas semanas. E se vier a ocupar o Palácio de Belém, como provavelmente acontecerá à primeira volta, Marcelo-presidente terá como principal adversário político uma outra figura de peso e das poucas que apresentam uma popularidade à sua altura: Marcelo-comentador. Neste momento, este é já o seu principal opositor. Porque a mediatização é sempre um pau de dois bicos.

OUTRAS LEITURAS

Nada como um governo de esquerda para poder praticar sem polémicas políticas que geralmente associamos à direita. Universidades vão manter contenção orçamental e terão que encontrar receitas privadas.

Enquanto isso, felizmente há uma nova geração para quem todas estas polémicas são estranhas. Há startups portuguesas que são referência mundial.

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