Com este, estão de volta os argumentos a favor, os contra, e os argumentos tão pateticamente sofridos que eles próprios deviam pedir para ser eutanasiados. Sendo eu completamente a favor da legalização, podia ser básico e redutor, e dizer: é uma questão basilar de empatia, fim de conversa. Ainda assim, não estaria a ser tão básico e redutor como quem diz “não matem os velhinhos”, com o bónus de não estar, ainda por cima, a ser rasteiramente desonesto. É que se a questão é reconhecidamente complexa, então é capaz de dar algum jeito que quem é contra não pareça uma criança de 5 anos a fazer uma birra.
Em quem é contra, entre argumentos profundamente egoístas mascarados de compaixão, já li e ouvi coisas como o sofrimento ser uma forma de heroísmo - uau, por acaso agora o que eu queria era passar meses ou anos a sofrer horrivelmente com uma doença incapacitante para quando finalmente morresse, me fizessem uma estátua heroica -, e até já vi comparações entre eutanásia e nazismo, vindo de um membro do CDS. Que surpresa. De um partido onde um membro da direcção tem de se demitir por ser anti-semita e admirador de Salazar, usar o reductio ad hitlerum foi das coisas que me mais me fez rir esta semana.
E depois há a Igreja Católica, fonte inesgotável de comicidade com as suas acrobacias morais. Ainda há dias o Bispo do Porto, Manuel Linda, disse que “a vida humana nunca é referendável”, mas mais valia o referendo do que ser o Parlamento a decidir. Muito bem visto. Aliás, para quê deputados quando os cidadãos podiam todos os dias ir votar todas as decisões para o país? IVA da electricidade? Referendo. Redução do consumo de papel higiénico na Assembleia da República? Idem, e por aí fora. A democracia representativa é mais sobrevalorizada que o pastel de bacalhau com queijo da serra.
Mas já que a Igreja continua constantemente a querer meter a hóstia nos assuntos do Estado laico, eu se calhar lanço aqui uma série de ideias para referendos mais relacionados com a Igreja.
É que a Igreja gera milhões de euros e é das maiores detentoras de edifícios no país, mas não paga IVA, IRC ou IMI. Levamos a referendo? É que com tanto dinheiro que o Estado ganharia, era investir nos tão aclamados cuidados paliativos e passaríamos a ser o melhor país do mundo nessa área. A Igreja continua a proteger os milhares de padres pelo mundo todo que são pedófilos e não são levados à justiça. Levamos a referendo? Se calhar não é importante, tendo em conta que há padres que dizem “ao menos a pedofilia não mata, ao contrário do aborto”. A Igreja, nos anos 80 e 90, quando a SIDA matava no mundo aos milhões, continuava a apelar contra o uso do preservativo. Devíamos ler levado a referendo? Tantas questões por responder.
Mas, se calhar, enquanto não nos dão as devidas respostas, não brinquem com o sofrimento dos outros para descanso dos vossos cegos dogmas. A eutanásia é o poder dado às pessoas para que possam ter auto-determinação no fim do seu sofrimento, tendo em conta que o seu corpo e mente, só a elas diz respeito, e é já de si demasiado difícil e complexo de legislar, para ainda ter que lidar com caprichos religiosos.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Tame Impala: Está aí o novo álbum dos meninos.
- Lugar Estranho: Já dia 18 em Mafra, 22 Porto de Mós, 13 de Março no Porto e 3 Abril em Lisboa.
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