Algumas famílias mais católicas ainda tentavam, esperançosamente, meter o Menino Jesus na história – era por causa dele que apareciam os presentes, comemoração da visita dos Reis Magos ao estábulo de Belém. Os espanhóis, católicos mais empenhados, arranjaram uma boa desculpa: até dão os presentes a 6 de Janeiro, o dia em que supostamente Gaspar, Melchior e Baltazar apareceram com ouro incenso e mirra para o recém-nascido. É interessante que estes magos só apareçam num Evangelho, o de São Mateus, escrito uns quatro séculos depois do acontecimento, e que o autor nem sequer diga que são três – apenas refere os três presentes.

É durante a Alta Idade Média que os magos surgem com força na cosmologia cristã, tendo-se então decidido que eles até teriam sido baptizados. Como não podia deixar de ser, apareceram as suas relíquias, transladadas de Constantinopla para Milão com grande pompa e circunstância. Em 1164 passaram à categoria de santos e mudaram-se os restos mortais para a catedral de Colónia, onde ainda se encontram.

Modernamente tentou-se uma explicação científica para o facto destes reis, ou magos, terem ido da Pérsia, Arábia Saudita ou Iémen, para a Judeia. Teriam seguido um cometa. Mas não há registo de cometas nesse período. Na verdade, o cometa aparece pela primeira vez já no Renascimento, numa pintura da natividade da autoria de Giotto. Poderia ser uma estrela particularmente brilhante; há quem fale de uma conjunção de Vénus e Marte, mas na Antiguidade, com a Astrologia já desenvolvida, não se confundiria dois planetas com uma estrela.

Por outro lado, a data de 25 de Dezembro tem antecedentes pagãos. Os romanos celebravam a Saturnália na segunda quinzena de Dezembro (solstício de Inverno), uma grande festa em que as famílias se reuniam e também havia festejos populares. Quando Constantino se converteu ao catolicismo, mudou a data para o dia 25 e a Igreja sacralizou-a com o nascimento do Salvador. Porque não se sabe ao certo quando Jesus terá nascido. Cálculos vários, baseados em referências vagas, colocam-na em Outubro, dois anos antes da data oficial – o ano zero da nossa Era.

Então, como é que o Pai Natal tomou o lugar dos Reis Magos? Isso deve-se, certamente, à dessacralização da sociedade e perda de influência da Igreja católica, e também ao facto de o velhinho de barbas brancas ser uma figura mais alegre e pró-activa.

Na verdade, o Pai Natal começou por ser São Nicolau, um arcebispo grego do século VI. Aparece ligado ao Natal no século XVI, na Grã Bretanha, não se sabe exactamente como. Tornou-se realmente popular no século XIX, juntamente com a árvore de Natal – essa, uma invenção alemã.

Para a popularização da simpática figura muito contribuiu um livro publicado nos Estados Unidos em 1821, “Um presente de ano novo para os pequeninos entre os cinco e os doze anos”. Continha um poema anónimo chamada “O velho São Nicolau, com muita alegria” em que o descrevia a andar de trenó puxado por doze renas, levando presentes a todas as crianças que se tinham portado bem durante o ano.

Quanto à árvore, também foi no século XIX que começou a ser usada nas casas das famílias mais abastadas, decorada com doces e pequenos presentes, e iluminada com velas. Para se ter uma ideia do nível de quem fazia árvore de Natal, basta ver que a moda foi introduzida em Viena em 1816 pela Princesa Henrietta de Nassau-Weilburg, e em França, por volta de 1840, pela Duquesa de Orleans. As bolas eram de cristal da Boémia finamente decorado e custavam pequenas fortunas.

Hoje diz-se que o Natal está “aviltado”, que se tornou apenas uma oportunidade comercial para alimentar o consumismo. Pode ser, mas também é verdade que há uma magia na Consoada que não se perdeu, antes pelo contrário. Em algumas casas ainda se faz exclusivamente o Presépio; noutras, o Presépio e a árvore de Natal; e noutras ainda, nada se faz; contudo a oportunidade da família se reunir continua e até está mais divulgada, uma vez que agora as famílias andam muito separadas, com alguns membros a viver em diferentes países, ou apenas com pouco tempo para se encontrar durante o ano. E o mais interessante é que as crianças, mesmo não acreditando no Pai Natal como um ente vindo pelo céu a bordo de um trenó, gostam de ver um dos adultos da família mascarado de vermelho a fazer ó-ó-ó e a distribuir embrulhos. E gostam do que vem dentro dos embrulhos!

Há uma felicidade no Natal, uma trégua no desgaste do dia a dia, que se torna cada vez mais forte, à medida que a vida fica mais difícil e o pessimismo entra nos ossos como se fosse frio polar. E o consumismo, temos de reconhecer, é muito tentador. Por isso o Pai Natal permanece o mesmo velhinho simpático que distribui mimos e abraços.

Não é preciso acreditar nele; o que é indispensável é acreditar na felicidade. Essa crença, é eterna.

As últimas escolhas do ano

Agora que o ano termina – e que ano! – está na proverbial altura de fazer listas das melhores coisas que aconteceram nestes trezentos e tal dias. Por exemplo, quais os dez melhores filmes de 2016? Segundo Jen Yamato, a crítica do “Daily Beast”, forem estes aqui. Tenho a certeza que não concorda!

E quanto a livros escritos em inglês? Esqueça a famosa lista do “New York Review of Books” e veja a do site super chique “Refinery 29”. Será que conhece algum? Se não conhece, pode ir a correr à Amazon...

Mas se for francófono, ou o francês for a sua segunda língua, talvez prefira dar uma vista de olhos ao igualmente chique “Senscritique”. A lista não é de dez, mas sim cinquenta livros que, segundo a sondagem do site, são imperdíveis.

Quanto a música, acho que podemos confiar na “Variety”. Segundo eles, em 2016 saíram dez discos que vão ficar para a História...