Há esperança, mas sobretudo muita tensão. Algumas certezas para os dias imediatos, mas muita incerteza para o tempo seguinte. A permuta de reféns por prisioneiros vai começar. Mas antes do início da trégua na guerra que segue sem acabar, desde o anúncio dessa imposição de trégua a partir da manhã deste domingo, que é véspera de nova presidência Trump nos Estados Unidos, os caça-bombardeiros israelitas estão a intensificar os ataques sobre Gaza. Morreram mais de cem palestinianos que na quarta-feira julgaram ter passado a escapar à fome e às bombas.
A ultra direita messiânica israelita, que deseja a “vitória final” com esmagamento do Hamas e expulsão dos palestinianos, abriu uma crise no governo de Netanyahu e faz crescer incertezas sobre o tempo seguinte. A guerra é um alibi útil para Netanyahu continuar a escapar à justiça. Trump, o amigo dele, tem a chave para o futuro.
Neste domingo, haverá lágrimas de alegria nos abraços dos dois lados. Começa a libertação de, por agora, 33 reféns e de várias centenas de prisioneiros políticos (Israel não aceita libertar palestinianos implicados em crimes de sangue). Por cada refém libertado pelo Hamas, Israel vai ter de libertar 30 prisioneiros palestinianos. Serão 50 na permuta por cinco mulheres-soldado israelitas.
"É evidente que o ressurgido Donald foi decisivo para as libertações neste domingo."
Também haverá lágrimas de revoltada dor. Vai ficar a saber-se quem são alguns dos reféns já sem vida. Oficialmente, são 98 os reféns que o Hamas continua a ter aprisionados, há 470 dias, em subterrâneos, túneis ou cavernas, sem o mínimo de condições vitais, expostos a violências com abusos de todo o tipo. É imaginável o suplício dos familiares, que até ao último momento estão na incerteza sobre se os seus parentes ainda estão vivos e conseguem resistir até à hora da libertação.
Admite-se que 30 dos 98 já estejam sem vida.
Os sobreviventes vão aparecer muito frágeis, a precisar de muito tratamento, também psicológico. O grupo de reféns incluiu crianças muito pequenas – tinham em 7 de outubro poucos meses ou anos – e também anciãos, alguns com mais de 80 anos. Viram morrer pais, filhas e filhos, maridos e mulheres que testemunharam o fim do parceiro.
Esta tragédia arrastou-se porque Netanyahu quis sempre escapar aos processos judiciais que o podem atirar para a prisão por vários anos – e nem se trata dos processos por crimes de guerra ao longo destes 470 dias.
O acordo que torna possível a libertação de reféns e prisioneiros e o início de trégua, foi conseguido após uma reunião entre Netanyahu e um enviado de Trump, que se prolongou por cinco horas.
É evidente que o ressurgido Donald foi decisivo para as libertações neste domingo. Também é ele quem tem a chave para a duração do cessar-fogo. É provável que Trump pretenda instalar um acordo (que serve interesses dos EUA) entre Israel e a Arábia Saudita, o qual será certamente condicionado pela exigência saudita de instalação e reconhecimento do Estado palestiniano.
Por agora, a ala mais extremista do governo das direitas chefiado por Netanyahu ainda faz o que pode para obstruir o desenvolvimento do acordo. O último argumento é o de que a guerra sobre Gaza tem de recomeçar logo que todos os reféns estejam libertados. A seguir, defendem, há que voltar ao esmagamento do Hamas. O atual acordo é a prova de que o Hamas continua a existir.
É facto que a ala moderada palestiniana está a tentar tudo para que Gaza e a Cisjordânia venham a ser governadas por uma muito renovada e revigorada Autoridade Nacional Palestiniana, liderada pela Fatah e sem o Hamas.
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