Bourdain era um explorador gastronómico. Descobriu um género novo: a geopolítica da cozinha. Lembra o que fez, no tempo das independências africanas, um dos mais brilhantes repórteres da segunda metade do século XX: o polaco Ryszard Kapuscinski, que, para contar como era vida daqueles povos que se libertavam da era colonial, ia viver, em longas temporadas, no meio das pessoas locais. Kapuscinski recusou sempre meter-se em hotéis, em especial aqueles com ares de cinco estrelas, ele entendia que para contar a vida das pessoas precisava de viver como elas, no meio delas.

Nos programas de televisão e nos livros de Anthony Bourdain também podemos confirmar que uma mesa com um prato com comida local e um copo de vinho é um enquadramento ideal para compreender a vida, os sonhos, as dificuldades e os medos das pessoas de um lugar.

Com Bourdain, o mais provável era sermos levados a conhecer o prato do dia de um restaurante que poderia ter o estilo de taberna, casa de pasto ou cozinha familiar. Muitas vezes aconteceu ser um daqueles restaurantes na beira de uma estrada ou de um bairro de gente modesta. Com os sabores da comida e da bebida havia sempre gente que nos acrescentava conhecimento sobre como se vive nesse lugar.

É célebre o episódio do jantar com Obama num restaurante popular de Hanói. Foi há dois anos, Obama, antes de terminar o segundo mandato, quis viajar a um lugar que tinha sido de maldição americana, o Vietnam. Bourdain tinha acesso a Obama e desafiou-o para a experiência de um pequeno e modesto restaurante familiar em Hanói, onde toda a ementa assenta numa sopa de carne de porco com açafrão e várias outras especiarias. O presidente aceitou o convite, fez questão de garantir que o programa oficial na capital vietnamita tinha uma noite livre para a escapadela gastronómica com Bourdain. E assim aconteceu, com os dois, Obama e Bourdain, sentados num banco de plástico, a uma pequena mesa, ao lado de duas dúzias de comensais locais, a beberem cerveja pela garrafa e a saborearem a sopa vietnamita que comentaram ser deliciosa.

Hoje, o atual presidente dos Estados Unidos está em Singapura, à beira de uma cimeira nuclear com o ditador da Coreia do Norte. Ninguém imaginará o populista Trump – está com popularidade em alta nos Estados Unidos - a ousar a experiência gastronómica de um restaurante asiático de gente simples. Se houvesse uma oportunidade fora dos banquetes oficiais, é provável que o exacerbado nacionalismo de “The Donald” o levasse a preferir um McDonald´s. Numa entrevista, uns meses antes de se encontrar com a morte, Bourdain contou que nunca jantaria com Trump. Justificou: estar à mesa tem de ser uma experiência de prazer, com Trump seria impossível.

Ficou evidente que Bourdain quis muito mais ser um ativista de causas boas e justas do que uma celebridade. O valor dele como criador impõe-se ao de qualquer grau de celebridade. Faz falta gente com aquele contagiante entusiasmo e capacidade de reinvenção – embora com um momento em que a vontade de viver colapsou, sabe-se lá porquê.

Vale seguir:

A odisseia de 629 náufragos africanos no Mediterrâneo, a bordo do navio de resgate que esbarra nos muros levantados na nova Itália política e em Malta. O relato no El País de uma repórter a bordo do Aquarius. Este é um episódio de um drama que tem anunciadas muitas repetições. Estamos perante um sério problema.

O encontro desta terça-feira em Singapura, sendo o mais decisivo em um ano e meio de presidência Trump — pode colocá-lo na história das relações internacionais —, também tem uma porção da estabilidade no mundo dependente do seu resultado.

A visita da banda que marcou a noite dos prémios Tony, nos Estados Unidos da América

O Mundial de futebol é visto assim na primeira página do Olé, na Argentina.

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