Concordo com os subsídios à arte, desde que transparentes, justos, escrutinados e mais diversificados. A ideia que passa é que os concursos de apoio às artes servem um sistema de compadrio e não a comunidade. A arte não se manifesta hoje em dia nas mesmas plataformas do que há vinte anos atrás, tampouco mantém apenas os mesmos protagonistas. O facto de algumas companhias reivindicarem para si o direito absoluto de receber apoios é sem dúvida um fator de desigualdade para com inúmeros artistas que têm de manter um dayjob a virar hambúrgueres para pagar a renda, enquanto tiram horas de sono para criar.
A culturazinha portuguesa tem de sair da sua bolha, da aldeia do amiguismo, do pseudo-cosmopolitismo parolo que ficou parado no Frágil nos anos 90, da intelectualidade forçada, da arregimentação corporativista, da ideia de clube privado em que se tem encerrado. E precisa de deixar de ostracizar todos aqueles que não considera dignos de partilhar o pedestal ilusório onde coloca os seus.
Esta bolha manifesta-se sobretudo no elitismo. Eu tenho a certeza de que este elitismo é uma gritante exibição de insegurança. É essa insegurança que motivará os diretores de salas de espetáculos a barrar performances como o stand-up comedy em vários teatros – muitos deles públicos – em Portugal. Acredito que tenham de desencantar mecanismos de compensação para justificar o insucesso de bilheteira de peças que acolhem. “Ah pois, tenho seis pessoas na plateia, dois são meus primos da França, mas isto é arte e o que vocês fazem é macacadas”. As desculpas para não receber espetáculos de comédia são sempre as mesmas, “Não faz parte do tipo de programação que queremos para a casa”. Como assim? É uma sala. Meu, são cadeiras e um palco. Julgam que ter um espetáculo de stand-up vai afastar quem? Será que têm medo que apareça lá um intelectual a dizer “Hmmm esteve aqui um gajo a contar piadas, já me contaminaram isto, juro que não venho aqui ver o “Mãe Coragem e Seus Filhos” do Brecht”. É uma vergonha.
Não tenho dúvidas de que haverá espetáculos de stand-up com bem mais profundidade do que algumas peças de teatro. Mas os humoristas não são artistas, nem recebem subsídios, a não ser que deixem de fazer stand-up e passem a interpretar monólogos. Aí têm o respeito dos pares e as salas sempre disponíveis para os receber. Se recebe subsídio é arte, se não recebe, é entretenimento.
O problema com as artes em Portugal é efetivamente não existir sequer indício de mentalidade cultural. As salas de espetáculo fazem tanto parte do roteiro de lazer de um português como um recinto de curling. Temos os pagamentos a 180 dias, os estágios, os voluntariados nos festivais de cinema, as borlas, os espetáculos grátis, os projetos que mais tarde podem vir a meter dinheiro, mas que por agora é só experiência, entre milhares de exemplos que nos levam a concluir que o showbiz em Portugal é não mais do que mediano. De facto, deve ser por isso que lhe chamam “o meio”.
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