Estamos em outubro de 2018 e ouvimos falar cada vez mais de alterações climáticas, petróleo, descarbonização, preço dos combustíveis fósseis e preço da eletricidade.

Embora sucessivos governos refiram que é necessário reduzir as emissões de CO2, ter mais eletricidade renovável e recorrer menos aos combustíveis fósseis, das boas intenções à prática o caminho não tem sido linear.

Os últimos 10 anos permitiram um novo paradigma de transmissão e divulgação de informação, fazendo com que o nosso smartphone esteja conectado com tudo o que se passa no mundo. Ações coletivas, reuniões, opiniões, petições, fóruns, e manifestações são organizadas e divulgadas em redes sociais e novas formas de ativismo e pressão sobre os decisores políticos ou empresariais estão acessíveis à distância de um clique.

Portugal é um país que tradicionalmente apresenta baixas taxas de cidadania ativa, com uma pequena fração da população a participar a nível local, regional ou nacional em movimentos, associações, organizações ou até na política.

No entanto, nos últimos meses temos assistido a crescente mobilização e consciencialização da sociedade em temáticas de ambiente e energia. Veja-se o exemplo do movimento de cidadãos Plataforma Algarve Livre de Petróleo que conseguiu interpor uma providência cautelar para travar o furo de prospeção de petróleo que estava previsto ser feito a partir de setembro em Aljezur.

O petróleo em Aljezur tem muito mais em causa do que a mera exploração do petróleo per se, já que dá os sinais errados a um país que se quer totalmente descarbonizado em 2050, meta defendida pelo Governo. Queremos reduzir drasticamente o consumo de combustíveis fósseis mas apoiamos a exploração de petróleo? Esta contradição permite dar azo a uma discussão sobre que país queremos ter ao nível de energia e clima.

António Guterres deu o prazo de 2 anos a líderes políticos para enfrentar as alterações climáticas e o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) alertou que temos 12 anos para salvar o planeta, avançando com transformações "rápidas e sem precedentes" para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius.

Portugal tem uma gravíssima dependência energética do exterior que se agudizou em 2017 atingindo os 79% devido à seca severa que se fez sentir, estamos em vias de não cumprir a meta de 31% de energias renováveis na energia final em 2020 e de ter um Plano Nacional de Energia e Clima 2030 com metas de energias renováveis pouco ambiciosas face à relevância das temáticas que temos pela frente na próxima década.

Só através do trinómio energias renováveis + eficiência energética + mobilidade sem emissões de CO2 é possível dar resposta ao desafio que temos em mãos e com benefícios para todos os cidadãos também ao nível da sua carteira dado que, atualmente, a eletricidade proveniente de novas centrais solares ou eólicas é mais barata do que a produzida nas centrais térmicas com combustíveis fósseis (que estão com os preços mais elevados dos últimos anos). Uma verdadeira transição energética em Portugal tem de começar hoje.

O conceito de ambientalista ou de ativista pelo clima não pode estar associado a uma pequena fração da população, mas deve fazer parte da consciência de todos os cidadãos que se preocupam com o futuro que queremos, em risco de ser totalmente diferente ao que conhecemos hoje.

Veja-se o exemplo do consumo de plástico, onde uma nova franja da população passou a ficar consciente desta problemática num curtíssimo espaço de tempo, fruto da proliferação de notícias e conteúdos das novas formas de media e redes sociais. Pessoas que não davam grande relevância a estas temáticas deixaram de aceitar palhinhas de plástico em bares e grandes supermercados decidiram proibir a venda de talheres e pratos de plástico descartáveis. Tudo isto em menos de um ano.

Um ambientalista já não é só aquele ativista da Greenpeace que protesta contra as embarcações de pesca da baleia, mas pode e deve ser qualquer cidadão que tenha curiosidade de se manter informado sobre as temáticas globais do ambiente, clima e energia que têm impacto no nosso quotidiano, podendo atuar das mais variadas formas, desde que atue.

A importância das alterações climáticas e da descarbonização deve dar o mote para uma cidadania cada vez mais ativa e informada e que permita pressionar os decisores políticos e empresas para passar efetivamente das boas intenções à prática.

Mãos à obra!