O que está a acontecer na faixa de Gaza não será certamente simples, mas não é demasiado complexo para definirmos quem é o bully. O Ocidente não pode olhar para o que se está a passar em Gaza como uma mãe que interrompe uma briga entre os filhos, dando um estalo em ambos e dizendo "não me interessa quem é que começou". É certo que o ciclo noticioso da passada semana foi dominado pelo futebol, mas o desconhecimento dos detalhes do conflito na zona não nos pode impedir de ver que, do ponto de vista do poderio militar, estamos perante um Manchester City contra o Padroense.

Condenar as acções de Israel nada tem que ver com desvalorizar os horrores do Holocausto ou da sistemática perseguição que os judeus sofreram ao longo de vários séculos. Isto é óbvio, mas é também notório que esta questão se tem tornado, ao longo dos anos, numa fonte de argumentos contorcionistas por causa do perigo de soar antissemita. Ora, acusar alguém de antissemitismo por criticar a política de violência de Israel é como acusar alguém de homofobia por detestar a Eurovisão. Nem todos os homossexuais gostam da Eurovisão, nem todos os judeus apoiam esta forma de actuar de Israel. Nem todas as pessoas que gostam da Eurovisão são homossexuais, nem todas as pessoas que apoiam a brutalidade do estado israelita são sequer judias.

Num tempo em que os debates são várias vezes sequestrados pela ideia de que a identidade é a única relação de poder, criam-se entraves à lucidez quando nos coibimos de olhar criticamente para a chacina por pânico de incorrer em preconceito. Temos um problema se a possibilidade de ser ofensivo se sobrepuser à urgência em condenar ofensivas. A redução deste problema ao choque de culturas gera o consenso de que o problema jamais se resolverá e que nenhum dos lados tem mais responsabilidade do que o outro. Essa concórdia é cega, obsoleta e serve muito mais os interesses da parte mais poderosa. É urgente tirar o TINA (There Is No Alternative) de Palestina.