Tenho uma amiga que tem um papagaio. Não é nenhuma imagem criada para efeitos secundários, é a mais pura verdade. Chama-se Pepe. É do Sporting, apesar de a dona ser do Benfica. Diz um conjunto aprazível de asneiras, como fazem certos papagaios de anedotas brejeiras. Divide agora o seu reinado com um gato miúdo de nome Óscar e, escusado será dizer, a companhia levou-o a aprender a miar num instante.

O Pepe anda à solta pela casa, se a dona estiver sozinha. Tem uma gaiola enorme que serve para quando há visitas. Se alguém se aproxima, pode não gostar e dar uma bicada. Excepto se for o Manuel, já se sabe. Há sempre aquela alma que tem uma afinidade kármica com os bichos. Com o Pepe é o Manuel. Com o meu cão é o Chico. Podem refilar com todos, com estes dois ficam numa espécie de enlevo amoroso. Se a Rosário, ou Cucas, para os mais íntimos (nome que o Pepe profere pelas sete da manhã: Ó Cucas, ó Cucas, bom dia!) convida certas amigas, o papagaio não se coíbe de lhes chamar nomes, entre eles: Goda! (Temos de lhe perdoar a falta do r, afinal, é um papagaio com dois anos e meio).

Também é capaz de esmorecer emocionalmente e dizer: Dá um beijinho na boca. A dona afirma a pés juntos que não lhe ensinou nada disso, e que os palavrões foram conquistados pelo bicho, através de uns homens que foram lá a casa fazer umas obras. Para mim, a melhor história é a do impacto do teletrabalho. Estava a Cucas num zoom há horas e horas, porque a malta sofre de reunite aguda, e o Pepe, farto, fartinho de esperar para ser libertado da sua gaiola, diz alto e bom som: Fod@@@-&, está fio! (Lá está o problema com o r). A dona desatou a rir e o zoom terminou. Eu ainda estou a rir.