Não, os norte-americanos não são todos boas pessoas, nem os portugueses, nem seja lá que povo se quiser identificar – existirão sempre pessoas cuja maldade, cujas agendas pessoais e cegueira de poder, ou simples inveja, farão com que o mundo corra mal. Mas Trump foi – vou usar a expressão popular porque me dá um certo gozo – de carrinho, e a ameaça de se recandidatar ainda está longe. O mal que infligiu durante os quatro anos de presidência arrasou a credibilidade do país, e das instituições, e construiu feridas que só o tempo irá sarar.
Os milhões que votaram em Trump não desapareceram, como se viu com o assalto ao Capitólio. Biden dizer que precisa da ajuda de todos, e não fazer distinções entre democratas e republicanos, é a prova de que tem sentido de Estado. É um presidente de todos os norte-americanos, assumindo que todos são isso mesmo: cidadãos que precisam que o governo funcione, que a economia mexa, mas também que sejam assegurados os direitos e liberdades, e que se ajude os mais desfavorecidos.
No início desta semana, a população começou a receber no correio cheques de 1400 dólares. É um apoio directo e um estímulo às famílias, que se traduzirá em apoio ao consumo, logo, à economia. A distribuição é feita em função do rendimento mínimo, ou seja, 75 mil dólares anuais por pessoa, 150 mil por casal.
Mais de 50% dos 1,9 biliões de dólares do pacote de estímulo à economia aprovado são para apoio directo às pessoas. Biden diz: “O Estado somos nós”. E todos os opositores, aqueles que o insultam com carinhos como “velho senil”, e outras coisas jeitosas dentro deste espírito civilizado (sim, é ironia), podem meter a viola no saco.
A imprensa norte-americana diz que estamos a viver uma vaga “rooseveltiana”. Estamos a viver, no limite, uma vitória da decência e, só isso, vale tudo.
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