Umas vezes isto, outras vezes aquilo. E é válido para a esquerda ou para a direita. A elevação do debate, de politiquice a política, não se fez até agora e tão-pouco se fará. 

Para momentos nostálgicos, passíveis de nos fazer pensar na qualidade do exercício da política portuguesa, façam como eu: revisitem uma imagem da Assembleia da República de 1976, e vejam uma fotografia dos nossos parlamentares ao dia de hoje. Poderão dizer que é fruto dos tempos – os representantes do povo, independentemente da sua ideologia e programa político, serem menos interessantes, carismáticos, empenhados, cientes do que significa serviço público. É uma conclusão possível. 

Em 1976, tinham assento na Assembleia da República os chamados “pesos-pesados”, entre eles apenas 13 mulheres, é certo, mas sobre esse caminho falaremos num outro dia. Deputados eram, por exemplo, Adelino Amaro da Costa, Francisco Sá Carneiro, Freitas do Amaral, José Manuel Tengarrinha, Álvaro Cunhal, Carlos Brito, Maria Alda Nogueira, Octávio Pato, Amélia Azevedo, Artur Santos Silva, Francisco Balsemão, Mota Amaral, Helena Roseta, Arons de Carvalho, Salgado Zenha, Sophia de Mello Breyner Andersen.

Dirão, não gosto deste, esta não-sei-o-quê... Está tudo certo, mas ninguém discutirá a craveira intelectual de cada um destes, não vos parece? Os tempos estão para tudo, por isso vamos admitir já que sim, na política o que é consensual vale o que vale. Ainda assim, são nomes de peso. Com percursos. Ideias. Convicções. Hoje temos os “pesos-pluma”.

O que diz isto sobre a nossa classe política? O que diz sobre o nosso interesse abraçar o serviço público quando o serviço privado acena com menos chatices e melhores condições financeiras? Cada um tira as conclusões que entender, claro, em democracia é mesmo assim, mas admito que, em mim, prevalece o desalento.