Leio que seis em cada dez jovens, entre os 16 e os 25 anos de idade, estão muito preocupados com o futuro, por causa da crise climática. O estudo chama-se “Young People's Voices on Climate Anxiety, Government Betrayal and Moral Injury: a Global Phenomenon” (Vozes dos Jovens sobre a Ansiedade Climática, Traição Governamental e Lesões Morais: um Fenómeno Global), e envolveu cerca de dez mil jovens em países como Portugal, Brasil, Reino Unido, França, Finlândia, Estados Unidos, Austrália, Índia, Nigéria e Filipinas. O inquérito foi feito por sete instituições académicas na Europa, Reino Unido e EUA.

Aí se conclui que os jovens portugueses não têm esperança no futuro e são dos mais angustiados. Não estou a duvidar dos resultados científicos, nada disso, mas confesso que ao ler estes dados pensei: estão deprimidos por causa das condições climáticas, do que isso significa para o futuro, mas certamente estarão deprimidos por outras tantas coisas. A maioria dos jovens com quem converso não tem qualquer vontade seja do que for. É triste. Não sabem o que devem fazer, não acreditam que tenham hipóteses, consideram o sistema de ensino falhado, o político, então, nem vale a pena reproduzir o que já ouvi. A descrença em si próprios, no país e no mundo é solidificada por vários factores. Afinal, tiram uma licenciatura, às vezes até mestrado, e vão para um mercado de trabalho cada vez mais precário, sabendo que irão ganhar o ordenado mínimo ou pouco acima. Os jovens portugueses são os europeus que saem mais tarde de casa dos pais. Não admira muito, considerando o preço do aluguer das casas. Para a maior parte, comprar está fora de questão, porque os bancos só emprestam 80% do valor pedido pelo imóvel e pedem um fiador.

Há vários anos que os jovens – hoje à roda dos 20 anos – ouvem dizer que isto está tudo uma desgraça, que a justiça não funciona, que a carga fiscal é das mais altas da Europa, que o Estado é uma espécie de sócio pouco silencioso, que arrebanha o que pode e o que não pode. Vêm de um ensino que pouco difere daquele que eu tive. Não há renovação, não se considera essencial perceber que estamos perante uma geração naturalmente ligada à tecnologia, e com a capacidade de executar múltiplas tarefas em simultâneo, o chamado multitasking. A internet mudou a forma de estar dos adolescentes, dos jovens, e fatalmente isso tem consequências.

É verdade que a crise climática é muitíssimo preocupante e que o futuro está penhorado. Fizemos demasiadas asneiras e continuamos a fazer. Mas os jovens portugueses, cuja esperança no mundo é tão reduzida, têm boas razões para se sentir deprimidos. Estaria eu, se tivesse 20 anos? De certeza que sim.

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