Antes de prosseguir, entendamo-nos: a eleição de Luís Montenegro é um facto político com o qual nos congratulamos; por outro lado, servimo-nos das palavras de Herberto Hélder para sumariá-lo: “começa o tempo onde a mulher começa, é sua carne que do minuto obscuro e morto se devolve à luz”.

A sua tarefa consistirá na organização do partido, num primeiro momento; federando o espaço político à direita, noutro. Tal missão tem uma natureza ciclópica, porquanto as sucessivas tentativas de promover a estabilidade da Direção e a capacidade criativa da mesma têm-se revelado infrutíferas. O PSD não tem conseguido atribuir um novo significado aos velhos significantes políticos.

Contudo, engrossamos o entendimento de José Miguel Júdice: “O PSD não vai tolerar outra coisa que não seja a unidade interna, diria que férrea, o que torna a vida de Montenegro nesse plano muito serena”. Nem mais, ou não fosse um dos homens mais inteligentes que o Portugal democrático produziu e a quem aproveitamos para saudar pela atribuição da Medalha de Ouro da Ordem dos Advogados – a mais alta distinção concedida a um Advogado.

De seguida, dir-se-á ainda que Montenegro se posicionou de uma forma muito inteligente na disputa eleitoral interna, desejando ardentemente ganhar. Qui-lo e fê-lo. Ao mesmo tempo, exerceu o seu direito ao silêncio e reteve a palavra quanto à definição da política de alianças futura. A seu tempo - tê-lo-á certamente -, poderá ensaiar uma resposta que seja inteligível e politicamente eficaz. Na verdade, terá de fazê-lo impreterivelmente, sob pena de descredibilizar o seu próprio projeto político.

Aliás, Montenegro, nos primeiros tempos, terá de exibir o seu carisma, criando emoções, construindo uma imagem que seja mobilizadora e, sobretudo, credível. Mas mais. Se a um passo se verifica que o PSD precisa de um líder com um raciocínio veloz e de resposta pronta; a outro, torna-se também necessário que tenha capacidade de sedução junto dos meios de comunicação social, respeitando as opiniões dos comentadores políticos, sendo que, a final, terá sempre de processar emocionalmente os comentários menos abonatórios. Repare-se que, quanto a isto, Rui Rio consignou, de todo em todo, a sua inabilidade para o debate político, ou seja, nunca tinha uma frase-relâmpago para o momento certo, ou pior, se as tinha, lançava-as a trouxe-mouxe. Com efeito, tão-pouco era portador do designado “killer instinct”, indispensável à política – pelo que, também por isso, feneceu politicamente.

Luís Montenegro terá de fazer radicalmente diferente. Mas os sinais que, entretanto, foi dando são muito positivos: i) a escolha de Miguel Albuquerque, Presidente do Governo Regional da Madeira, para mandatário nacional da sua candidatura ao PSD; ii) a importância que atribuiu às eleições regionais da Madeira de 2023, o primeiro teste da sua liderança; iii) privilegiar a unidade na ação e a coesão interna no PSD; iv) ter percebido a importância da Câmara Municipal de Lisboa para o PSD, colaborante que está com a edilidade camarária.

De outra banda, sublinhe-se que a maior ameaça é o entravamento da chamada dos quadros mais jovens para o PSD. O PSD envelheceu. É consabido que o ser humano envelhece, contudo, um partido grande não pode envelhecer. O rejuvenescimento do PSD é uma necessidade imperiosa. Em rigor, ontem, já era tarde.

Luís Montenegro terá de percorrer as instituições de Norte a Sul; inteirar-se dos anseios das forças vivas da sociedade; para além disso, terá de imprimir um espírito reformador dentro do partido, para no passo seguinte, espoletar uma profunda mudança no País. O PSD é um partido político com vocação maioritária, tem de querer conquistar o poder. Não pode querer ser o número dois. Tem de aspirar sempre pela vitória em qualquer eleição. O seu Líder não pode ter baixa autoestima! Se tiver alguma dúvida, é simples: pergunte aos órgãos executivos do PSD-Madeira como é que se faz – sabendo nós que o PSD-M vence eleições há mais de 45 anos, sem interregnos.

Neste tocante, o Professor Cavaco Silva foi lapidar: “O PSD tem de ser muito claro na identificação do adversário político: o PS e o seu Governo”. Mas que ninguém se engane, avizinham-se tempos difíceis para o PSD. O Primeiro-Ministro de Portugal é um adversário político forte e o PS é um grande partido; a acrescer a isto, o PS logrou a almejada hegemonia política em virtude da maioria absoluta alcançada em janeiro último. Por isso, o PSD não pode ter medo de ir para a frente de batalha tampouco deve perder tempo. Tem de oferecer combate político imediatamente. Sem conceder um milímetro. Uma e outras tantas vezes.

As que forem necessárias.

Por fim, que não por último, valeria a pena ainda sublinhar a importância da discussão, setorial, sobre a alta velocidade ferroviária. Luís Montenegro deverá preparar-se muito bem para essa discussão, na medida em que o País não pode esperar mais tempo pelo aumento da competitividade do transporte ferroviário de passageiros. Montenegro deverá pôr-se a par do investimento público estrutural que já está a ser executado no terreno, em virtude da consignação de várias empreitadas no quadro do Ferrovia2020 e do seu sucedâneo, o PNI2030, seja no Corredor Internacional Norte, no Corredor Internacional Sul, no Corredor Norte Sul, e, bem assim, nos Corredores Complementares; sem esquecer, obviamente, a criação da Nova Linha de Alta Velocidade Porto-Lisboa, com arranque previsto em dezembro de 2023.

Para tanto, “Seria inteligente recuperar a ideia de Jorge Moreira da Silva de fazer um governo-sombra de especialistas temáticos”, sendo que foi Mafalda Anjos quem lhe conferiu letra de forma (Visão, 2 de junho de 2022).

Ora, aqui chegados, afigura-se-nos perfeitamente possível extrair uma conclusão que de seguida exporemos: é por demais evidente que o PSD sob a batuta de Luís Montenegro, dará cumprimento ao princípio constitucional do direito de oposição democrática e, assim sendo, como efetivamente é, não pode Montenegro ambicionar menos do que a Vitória. Cá estaremos para o ajudar.