É a religião das religiões, tanto que é um Deus que nem ao sétimo dia tem descanso, até porque não há uma única história no mundo sobre o descanso gerar riqueza. Já viram o Jeff Bezos a descansar, por acaso? Não o vimos foi a pagar os impostos devidos, poderiam arguir vocês armados em espertos. Mas também ninguém está a falar disso agora.
Como todas as religiões, tem regras, mandamentos, orações e rituais, e é moralmente dogmática e inabalável.
A Santa Blackfriday é então a celebração do dia em que qualquer tipo de bom senso foi completamente crucificado, em prol da elevação dessa divina aquisição de bens materiais cujo valor é tão verdadeiro quanto cada um quiser acreditar. Este ano celebrou-se então o pináculo do capitalismo cheio de nada, novamente com grandes descontos em tudo.
Houve campanhas para viagens, colchões, TVS e telemóveis, carros, dignidade, SNS, petinga, rins humanos, couve-flor e empréstimos bancários. Exatamente. Descontos – incríveis, inacreditáveis e até surreais – nas taxas de juro dos empréstimos que as pessoas poderiam pedir nesta promoção, para depois comprarem produtos que, à partida, já não estavam em promoção e que, à chegada, continuavam a deles não precisar.
O capitalismo a ser genial como só ele, o consumismo a ser purgatório de almas penadas, e assim se dá o milagre da multiplicação do empobrecimento mental através do enriquecimento do capital. Aquilo dos descontos no quilo da petinga, e até nos rins humanos, sou capaz de ter inventado. Mas esta dos empréstimos nem para piada me conseguiria ter lembrado.
Hoje é dia da ressurreição. O bom senso então voltou, a dopamina do prazer das compras já baixou e o empréstimo é que continua por pagar. Mas a fé tudo resolve. Enquanto houver vazios para preencher, o dinheiro tapa, o empréstimo do empréstimo cobre, o capital embala. Não se salva é a alma.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Jovem Conservador de Direita: novos dois e óptimos episódios no podcast.
- Myanmar: Um país maravilhoso, do qual me despeço hoje depois de duas semanas incríveis.
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