Cá estamos. É aquela altura do ano outra vez! Se antes a chegada do Natal só causava ansiedade às crianças, nos dias de hoje todos nós ficamos angustiados cada vez que abrimos mais um quadradinho do calendário do Advento e saem de lá uns milhares de casos de Covid. Como no ano passado, os números da pandemia estão a aumentar à medida a que se vão instalando enfeites natalícios, pelo que é inevitável que à primeira vista o cenário desencadeie nos portugueses uma reação traumática. Apesar de tudo, a situação não tem nada a ver com a de 2020, por causa da vacinação, mas não há dúvida de que as pessoas que precisam de uma boa desculpa para faltar ao almoço de dia 25 com a família do cônjuge continuam com sorte.

O Outono tem-nos reservado uma quantidade considerável de dias de sol, mas muitos portugueses confiam que, na próxima manhã de nevoeiro, D. Gouveia e Melo voltará para nos salvar outra vez. A Ministra da Saúde descartou a hipótese e o vice-almirante rejeitou liminarmente o regresso, mas eu já vi estes filmes na natalícios: estão só a criar dramatismo para valorizar o regresso triunfante do herói. E Gouveia e Melo é uma espécie de Pai Natal: é muito competente na logística, é conhecido pelo Mundo, veste sempre a mesma roupa e tem um certo gosto em fazer as pessoas perceber que não se andam a portar bem. A diferença é que cada vez menos pessoas acreditam no Pai Natal, ao passo que cada vez mais pessoas só acreditam no Vice-Almirante.

Face ao aumento dos números, o presidente da República defendeu esta terça-feira a reposição do uso de máscara na rua. Parece-me um recuo eficaz. Às vezes, estou a sair de uma discoteca com centenas de pessoas e fico sempre impressionado com a malta que vai correr às sete da manhã sem máscara. Irresponsáveis!

Não é como se houvesse uma medida que diminuísse os contactos desnecessários, mantendo a economia a funcionar e diminuindo o trânsito e as emissões. Sim, sim. Aquilo de que nunca tínhamos ouvido falar até março de 2020 e de que já não ouvimos falar desde junho de 2021: o teletrabalho. É que, neste momento, temos o pior dos dois mundos. Temos pessoas confinadas em casa porque contraíram a doença e pessoas confinadas em carros para se irem confinar em escritórios para contraírem a doença que os confinará em casa. Lembram-se quando achávamos que íamos enterrar permanentemente o verbo “confinar”? Pois.

Não há razões para obrigarmos a força laboral do país a espirrar para cima dos pares neste Inverno. Dos pares e do volante, já que uma parte que podia ser útil do dia de trabalho é desperdiçada em engarrafamentos. Movimentos pendulares são horas e horas de produtividade que o país deita fora. Em que ninguém descansa, ninguém trabalha, ninguém aprende nada para além das letras das músicas do top. Nesta altura, ainda há tempo para ressuscitar o teletrabalho. Vamos é precisar que o Vice-Almirante se ponha a instalar fibra óptica pelas casas deste país, caso contrário a adesão será fraca.