Estipulámos que faríamos uma reunião de condomínio de 15 em 15 dias, no limite uma vez por mês. Porque temos interesses em comum, partilhamos o mesmo espaço, precisamos de tomar decisões sobre o futuro. Isto tudo é apenas um pretexto para convivermos à volta de um jantar, durante o qual as conversas podem ser familiares ou apenas fofoca saudável.
Estarmos juntos, é o que importa. Porque a amizade precisa de ser exercida e dá trabalho manter relações de amizade condignas e reais. Conhecemos muitas pessoas, mas temos apenas algumas pessoas na nossa vida que são realmente “as nossas pessoas”. Com essas convém exercitar o diálogo, partilhar o riso. E, por causa desse riso, respondendo a uma pergunta inesperada – o que é o sentido da vida? –, limitei-me a confirmar que o riso é aquilo que dá sentido aos nossos dias. Não sei se a pessoa que fez a pergunta ficou convencida, pouco importa, porque a nossa relação é profissional e a pergunta, de certa forma, surgiu como um aparte.
Acredito muito que o riso é reparador e que a amizade é aquela que nos sustém nos melhores e piores momentos. Ter com quem rir é ter alguém que podemos abraçar, que está connosco em sintonia, que percebe as nossas referências.
Ser amigo de alguém não significa que sejamos iguais. As diferenças são cruciais, porque é nelas que aprendemos a ver o mundo de outra forma, a tentar perceber outras perspectivas. Temos a reunião de condomínio agendada; outras pessoas esforçam-se por manter as relações vivas através de telefonemas, ou de outro tipo de encontro. Uma das coisas que a pandemia comprovou é a necessidade de relações afectivas que sejam verdadeiras e constantes. O mundo pede-nos o contrário e isso rouba sentido à vida. É importante conseguir dizer que vamos parar duas horas para estar com os nossos amigos, porque o trabalho será depois feito com outro ânimo. Olho à minha volta e muitas pessoas estão apenas no modo trabalho, é assim que funcionam. Não devem rir muito. E que sentido faz isso?
P.S.: Morreu a Rita Lee que é como dizer que morreu uma amiga com quem partilhámos risos e surpresas de vida, mesmo não a tendo conhecido, é uma das nossas pessoas. Morreu a Rita Lee, a Rita Lee nunca morrerá.
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