Se isto é triste? Imenso. Se espanta? Pouco.
Por mais que uma data de gente se recuse a ver (e por uma data de gente, entenda-se que quase toda esta maioria é composta por homens brancos e socialmente favorecidos há séculos e séculos), vivemos ainda numa cultura – pasme-se! – altamente machista que desvaloriza os crimes sexuais e tantas vezes culpabiliza a vítima.
Ainda há pouco, num voxpop que fiz sobre feminismo, um rapaz estudante do Técnico disse-me com um ar trocista que “no means yes, and yes means anal [não significa sim, e sim significa sexo anal]”. Simpático, não? Não é que ele tivesse ar de violador – os violadores têm um ar próprio? Provavelmente não, dava jeito que tivessem – mas aceita este tipo de pensamento, bem como “agora os homens são todos logo violadores”. Certo. Porque como, para aí, 3 ou 4 em cada 100 casos de acusação de violação são falsos, então vivemos tempos de histerismo e estamos a condenar injustamente 3 ou4 homens porque as mulheres se estão todas a aproveitar do #MeToo. Ah, feminismo, seu diabo opressor dos pobres homens que, coitados, são provocados pela forma como as mulheres se vestem e biologicamente não aguentam tamanha tesão que os deixa surdos e não conseguem ouvir um “não”.
Amanhã, 25 de Novembro, é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. É espantoso como em 2018, quando pomos carros no espaço, travamos cancros e encomendamos pizza de ressaca pelo telemóvel sem termos de nos mexer, ainda tenhamos que ter este dia para nos relembrar mais uma vez da barbaridade latente que ainda existe. E existirá enquanto houver anormais (tanto homens como mulheres) que acham que as mulheres se põem a jeito ao vestir seja o que for, que gritar “ó boa, fazia-te um pijaminha de cuspo” na rua não é assédio ou que se riem imenso com o tal “no means yes and yes means anal”. Se não conseguem ver a estupidez que isto é para todas as mulheres – e sociedade no geral – experimentem pelo menos fazer o exercício e colocar as vossas mães, irmãs e filhas em tais posições. Vá, fim da crónica. Podem continuar a mandar fotos da vossa pila a atraentes desconhecidas por InstaDirect (também é assédio, por acaso).
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Janeiro: Meu querido amigo e grande músico, Henrique Janeiro hoje às 21h45 no Maxime, Super Bock em Stock
- Narcos in Mexico: Vejam, pendejos.
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