Respeito muito o trabalho dos agentes da autoridade. Agradeço todo o esforço que a polícia tem feito para me proteger de toda a índole de larápios. É algo confrangedor ter de fazer esta declaração de interesses, porque é óbvio que me revejo na existência forças de segurança, mas quando se apresenta uma visão crítica de algo que a polícia fez sujeitamo-nos a que surja uma turba desejando que sejamos roubados, agredidos, violados, que não saibamos onde se situa determinada rua e a polícia não esteja lá para nos auxiliar. Quem guarda os guardas? A opinião pública, sempre.

A divulgação das fotografias dos três criminosos capturados em Gondomar foi particularmente grave e o Ministro esteve bem em condenar a ação de imediato. A polícia não tem de recorrer às redes para receber likes de justiça popular. Mais grave ainda foi o Sindicato Vertical de Carreiras da Polícia ter concebido uma montagem que incluía fotografias de idosos agredidos, não as dos crimes que eram imputados aos suspeitos, mas outros não-relacionados com sucedido, provavelmente provenientes de uma pesquisa no Google Imagens por “velhinhos espancados”. Era, no fundo, um meme, daqueles que as páginas de fake news partilham.

Eu não considero que seja justo estabelecer um paralelo imediato entre publicação de uma fotografia e a defesa parva dessa precipitação ao muito mais perigoso discurso securitário de Bolsonaro. É obviamente a tendência outono / inverno de 2018, comparar tudo ao execrável possível próximo presidente do Brasil. Chamemos-lhe o Reductio Ad Bolsonarum. No entanto, se a polícia não souber olhar para dentro e mantiver tendências preocupantes, algumas que já mereceram ralhete da Comissão Europeia, o corporativismo da polícia rapidamente se confundirá com carinho por uma ideologia alarmante.

É que a reação de uma associação da GNR, que afirma que os “criminosos não são merecedores do mesmo respeito do que o cidadão comum”, já torna mais legítimo esse paralelo. Seria péssimo para a democracia que o discurso das forças de segurança começasse a tanger no de copy-cats alt-right como André Ventura. E seria razão mais do que suficiente para que se pintassem stencils com acrónimos desafiantes pelas paredes deste país.

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