Hoje em dia, até alguém com 7 seguidores e meio, que estudou na escola na vida e que trabalha para o bronze, e é só no verão, é considerado um influenciador. É considerado por quem? Primeiro, por si próprio, o que tem graça logo aí. Alguém que se auto-intitula de influenciador é alguém que, primeiro que tudo, tem que convencer a si mesmo que realmente influencia alguém. Ora, se até a si custa a influenciar, imagino aos outros.

Mesmo ignorando estes – e deixando-os estar felizes no seu reinado de influência que abrange aproximadamente ninguém –, creio que estamos a usar o termo influenciador de forma claramente abusiva. Pelo menos, acho que se está a ignorar bastante a parte em que influência pode ser má.

Determinada pessoa até pode ter meio milhão de seguidores no Instagram, mas se estiver constantemente a fazer stories de ginásio e batidos verdes, só me vai fazer querer deitar-me todo nu no sofá o dia inteiro e barrar-me em pizza, hambúrgueres e chicken wings, e comer tudo diretamente do meu lindo e porco corpo. Ou se, noutro exemplo, alguém cuja presença digital se baseia em estar sempre a tentar impingir cremes, champôs ou suplementos proteicos, a única coisa que me vai influenciar é a querer dar-lhe o meu código para ter 10% numa loja de cérebros.

Influenciadores aos montes sempre houve, sempre fomos todos. Não tanto com a mesma projeção que se consegue na net, é certo, mas a base é a mesma: credibilidade. E a credibilidade não se faz com números. Vão-me perdoar mas, mesmo adorando a Mãe Coragem D.Dolores (1 milhão e 600 mil seguidores) e pondo like em tudo o que ela publica no Instagram, provavelmente não é nela que vou acreditar muito quando me disser que o último livro do Chagas Freitas merece o Nobel da Literatura.

Onde é que quero chegar com tudo isto? A pouco lado. É mais só para o pessoal se acalmar a achar que anda tudo a influenciar ao desbarato. Desde que se tenha uma massa encefálica desenvolvida medianamente, conseguimos distinguir bem boa parte daquilo que queremos que nos deixe influenciar.

De resto, se é para influenciar à balda, pelo menos esforcem-se um bocadinho. Ninguém segura realmente assim nesse protetor solar e olha para ele embevecido como se de um gatinho bebé se tratasse. Isso está tão falso que quase preferia apanhar cancro da pele.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Mongólia: Nunca fui, mas parece incrível. E no momento em que esta crónica estive a ser publicada, estou num avião a caminho de lá.

- Anderson Paak: Vou ver hoje (6.ª feira) no SBSR antes de ir de viagem. Agora que estão a ler isto, já passou. Mas podem ir ouvir os álbuns na mesma. É excelente.